Israel prossegue ataques a Rafah um dia após TIJ ordenar cessar-fogo

O exército israelita bombardeou novamente hoje a Faixa de Gaza, incluindo Rafah, um dia depois de o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ter ordenado a suspensão das operações militares no enclave.

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© AFP via Getty Images

Lusa
25/05/2024 10:25 ‧ 25/05/2024 por Lusa

Mundo

Israel/Palestina

As operações militares israelitas ocorrem num contexto de esforços em Paris para garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

Na sexta-feira, o mais alto tribunal da ONU -- cujas decisões são juridicamente vinculativas, mas que não dispõe de mecanismos para as aplicar -- ordenou igualmente a Israel que mantivesse aberta a passagem de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito, essencial para a entrada de ajuda humanitária, mas encerrada após o lançamento da operação terrestre no início de maio.

Israel defendeu-se, afirmando que "não realizou nem realizará qualquer operação militar na zona de Rafah" suscetível de "conduzir à destruição da população civil palestiniana".

O exército israelita lançou operações terrestres em Rafah em 07 de maio, com o objetivo de eliminar os últimos batalhões do Hamas, que esteve na origem do ataque sem precedentes em solo israelita, em 07 de outubro, que desencadeou a guerra.

O movimento islamita palestiniano, que tomou o poder na Faixa de Gaza em 2007, congratulou-se com a decisão do TIJ, mas lamentou o facto de esta se limitar "apenas a Rafah".

O TIJ ordenou igualmente a "libertação imediata e incondicional" dos reféns em Gaza.

No rescaldo, os bombardeamentos israelitas prosseguiram na Faixa de Gaza, nomeadamente em vários bairros do leste e no centro de Rafah. Registaram-se igualmente confrontos entre o exército israelita e o braço armado do Hamas.

"Esperamos que a decisão do TIJ pressione Israel a pôr fim a esta guerra de extermínio", declarou à agência noticiosa France-Presse (AFP) Oum Mohammad al-Ashqa, uma mulher palestiniana da cidade de Gaza deslocada pela violência em Deir al-Balah.

"Israel é um Estado que se considera acima da lei. Por isso, não acredito que (...) a guerra possa terminar de outra forma que não seja pela força", sublinhou também à AFP Mohammed Saleh, refugiado nesta cidade no centro do território palestiniano, 

Na madrugada de hoje, várias fontes palestinianas e equipas de reportagem da AFP também relataram ataques aéreos e fogo de artilharia em Khan Yunes (sul) e em vários bairros da cidade de Gaza (norte). 

Segundo testemunhas, caças e helicópteros atingiram o campo de Jabalia (norte) e dispararam contra alvos próximos de uma central elétrica a norte do campo de Nousseirat (centro).

A guerra na Faixa de Gaza começou em 07 de outubro, depois de comandos do Hamas se terem infiltrado a partir da Faixa de Gaza, matando mais de 1.170 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas. Nesse dia, 252 pessoas foram também feitas reféns no território palestiniano. 

Depois de uma trégua em novembro que permitiu a libertação de uma centena delas, 121 continuam detidas em Gaza, 37 das quais mortas, segundo Israel.

Em resposta, o exército israelita lançou uma ofensiva devastadora no território palestiniano, matando pelo menos 35.857 pessoas, sobretudo civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, movimento considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) em particular.

A situação humanitária e de segurança no território continua a ser alarmante, com o risco de fome, os hospitais fora de serviço e as cerca de 800.000 pessoas, segundo a ONU, que fugiram de Rafah nas últimas duas semanas.

"Estamos num momento crítico", resumiu o chefe das operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, durante a noite.

No início da semana, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) solicitou a emissão de mandados de captura por alegados crimes cometidos na Faixa de Gaza e em Israel contra dirigentes do Hamas e dirigentes israelitas, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O governo israelita condenou o anúncio do procurador, mas ordenou aos seus negociadores que "regressassem à mesa das negociações para obter o regresso dos reféns", segundo um alto funcionário.

No início de maio, as negociações indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas pelo Qatar, Egito e Estados Unidos, não conseguiram produzir um acordo de tréguas associado à libertação dos reféns e prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

O chefe da CIA, William Burns, é esperado em Paris para tentar relançar as conversações sobre uma trégua, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu na sexta-feira o primeiro-ministro do Qatar e os ministros dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, Egito e Jordânia.

Segundo a Presidência francesa, os líderes discutiram a implementação da "solução dos dois Estados", ou seja, um Estado palestiniano viável ao lado de Israel. A Espanha, a Irlanda e a Noruega anunciaram recentemente o seu reconhecimento do Estado da Palestina a partir de 28 deste mês.

Os dirigentes debateram também as "alavancas que podem ser acionadas para conseguir a reabertura de todos os pontos de passagem" para este território palestiniano e analisaram a forma de "aumentar e aprofundar a cooperação em matéria de ajuda humanitária".

Ao mesmo tempo, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, manteve conversações com Benny Gantz, membro do gabinete de guerra de Israel, sobre novos esforços para alcançar um cessar-fogo e reabrir o terminal de Rafah "o mais rapidamente possível", segundo Washington.

Leia Também: Egito e Turquia instam Israel a cumprir decisão do tribunal da ONU

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