Armas ocidentais em solo russo. Quem diz 'sim' e quem diz 'não'?

Vários países ocidentais têm aliviado as restrições impostas ao envio de armas para a Ucrânia, que envolvia uma proibição inicial do seu uso em território russo.

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© ROMAN PILIPEY/AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto
31/05/2024 10:33 ‧ 31/05/2024 por Notícias ao Minuto

Mundo

Guerra na Ucrânia

É certo que, como condição adjunta ao envio de armamento para a Ucrânia, os países ocidentais proibiram o seu uso em território russo... Mas o levantamento desta restrição tem vindo a ser adotado por vários países da Europa e pela própria NATO. Outros, porém, mantêm firme a posição inicial.

O tema foi exponenciado pelas declarações do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que, no sábado, defendeu que "negar à Ucrânia a possibilidade de usar estas armas contra alvos militares de interesses legítimos localizados em território russo torna tudo muito mais difícil" para Kyiv.

A Assembleia Parlamentar da NATO, uma instituição independente da Aliança Atlântica, aprovou mesmo, na quarta-feira, uma declaração de apoio ao uso de armas ocidentais para atacar alvos militares na Rússia. 

Já o presidente francês, Emmanuel Macron, possivelmente o maior porta-voz a favor do uso de armas ocidentais contra alvos na Rússia, esteve lado a lado com Stoltenberg, desde que os alvos não sejam civis.

"Devemos permitir que neutralizem os locais militares a partir dos quais a Ucrânia é atacada, mas não podemos permitir que outros pontos civis ou outros alvos militares sejam tocados", disse Macron numa conferência de imprensa no castelo de Meseberg, perto de Berlim, na terça-feira.

A ele juntou-se o ministro português da Defesa, Nuno Melo, que disse aos jornalistas, à margem do Fórum Schuman de Defesa e Segurança, em Bruxelas: "Tudo o que sejam ações defensivas implicam a utilização de armas. Imagine que tem peças de artilharia colocadas em território russo que estão a ser utilizadas para flagelar as linhas ucranianas. Os ucranianos estão inibidos de tentar destruir essas peças de artilha? Qualquer pessoa normal percebe que isso não faria muito sentido".

Em simultâneo, a Finlândia - que partilha mais de 1.300 quilómetros de fronteira com a Rússia - afirmou que "não impôs quaisquer restrições concretas à sua ajuda material à Ucrânia, mas presume que o material será utilizado em conformidade com o Direito Internacional".

"A Rússia está a travar uma guerra de agressão ilegal na Ucrânia, e a Ucrânia tem o direito à autodefesa, segundo o artigo 51.º da Carta das Nações Unidas. Isso inclui também ataques a alvos militares no território do agressor que sejam necessários para a autodefesa", disse a ministra dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Elina Valtonen, ao diário digital Uusi Suomi.

Na mesma onda de frequência estão os vizinhos da Lituânia, cujo ministro da Defesa, Laurynas Kasciunas, apelou a que seja tomada "a decisão de que todas as armas" entregues a Kyiv "possam ser utilizadas contra alvos na Rússia se forem usadas contra a Ucrânia". "Temos de levantar todas as restrições", vincou.

A 'luz verde' ao uso destas armas sobre alvos na Rússia não veio só, porém, da Europa. O Canadá, pela voz da sua chefe de diplomacia, Mélanie Joly, garantiu que "não existem condições de utilização final para o envio de armas do Canadá para a Ucrânia", e que é necessário ser-se "agressivo" no que toca à defesa desta proposta.

Os vizinhos dos Estados Unidos, por sua vez, também autorizaram a Ucrânia a utilizar armamento norte-americano para atacar alvos russos, mas com uma condição, e depois de forte pressão sobre o executivo de Joe Biden: Só poderá acontecer quando esteja em questão a defesa da cidade de Kharkiv.

"Na prática, a Ucrânia pode agora usar armas providenciadas pelos Estados Unidos da América para abater mísseis russos em direção a Kharkiv, sobre tropas que se estejam a reunir junto da fronteira ou para atacar bombardeiros que estejam a lançar bombas sobre território ucraniano", pode ler-se numa notícia do jornal Politico, que cita quatro fontes, também sem as identificar.

Das "regras claras" ao pedido de demissão a Stoltenberg: Há quem não queira armas ocidentais usadas na Rússia

Do lado dos mais céticos sobre este alívio nas restrições ao uso das armas ocidentais esteve o chanceler alemão, Olaf Scholz. Há "regras claras que se acordaram com a Ucrânia e que funcionam", disse, durante uma conversa com cidadãos na 'Festa da Democracia', em Berlim. Scholz acrescentou que quer "evitar uma grande guerra".

Dias depois, no entanto, Scholz mudou de opinião e mostrou-se aberto à possibilidade: "É preciso dizer claramente que, se a Ucrânia for atacada, pode defender-se", disse. A Alemanha, porém, continua a recusar o envio de mísseis de longo alcance (mais de 500 quilómetros) à Ucrânia, ao contrário da França e dos Estados Unidos.

Já os vice-primeiros-ministros de Itália, Antonio Tajani e Matteo Salvini, recusaram veemente a proposta de Stoltenberg, chegando mesmo o líder do partido Lega a pedir a demissão do secretário-geral da NATO, caso não "se retratar ou pedir desculpa".

A primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, disse apenas que "é necessário ser muito prudente" neste assunto.

E o que dizem Kyiv e Moscovo?

Os apelos de Stoltenberg, as 'luzes verdes' de diferentes países ocidentais e as negas de outros aconteceram após o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ter feito pressão, internacionalmente, para que tais restrições de uso de armamento fossem levantadas.

"Temos de trabalhar em conjunto e exercer pressão não só sobre a Rússia, mas também sobre os nossos parceiros, para que nos deem a possibilidade de nos defendermos da Rússia", insistiu Zelensky, em Madrid, ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

do lado do Kremlin, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, acusou a NATO de estar a "aumentar o grau de escalada" do conflito. "A NATO está a namoriscar com a retórica militar", considerou.

[Notícia atualizada às 11h41]

Leia Também: Stoltenberg confia em uso "responsável" de armamento ocidental em território russo

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