Aviões C-47 foram largando hoje, um atrás do outro, os paraquedistas - 70 no total, vestidos com uniformes ao estilo da 2ª Guerra Mundial. Dois dos aviões, batizados "That's All, Brother" e "Placid Lassie", eram veteranos do 'Dia D', entre os milhares de C-47 e outros aviões que, a 06 de junho de 1944, fizeram parte daquela que foi a maior armada marítima, aérea e terrestre de sempre.
As forças aéreas aliadas, que incluíam tropas que faziam descidas a bordo de planadores, aterraram primeiro no início do 'Dia D' para proteger estradas, pontes e outros pontos estratégicos no interior das praias de invasão e destruir posições de armas que atacavam o areal e os navios com fogo mortal.
Os aviões descolaram hoje de Duxford, em Inglaterra, para um voo de 90 minutos até Carentan, a cidade da Normandia que esteve no centro das zonas de lançamento do 'Dia D' em 1944, quando os paraquedistas saltaram na escuridão para o meio de tiroteios, dispersando-se muitos deles para longe dos seus objetivos.
Dezenas de veteranos da 2ª Guerra Mundial estão a convergir esta semana para França para revisitar velhas memórias, fazer novas memórias e transmitir uma mensagem que os sobreviventes do 'Dia D' e da subsequente Batalha da Normandia, e de outros teatros do conflito, têm repetido vezes sem conta - que a guerra é um inferno.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e a realeza britânica estão entre os VIP que a França espera para os eventos do 'Dia D'.
O objetivo dos espetáculos de fogo de artifício, dos saltos de paraquedas, das comemorações solenes e das cerimónias a que os líderes mundiais assistirão esta semana é passar o testemunho da memória às gerações atuais, que agora assistem novamente à guerra na Europa e na Ucrânia.
Ao longo da costa da Normandia - onde os então jovens soldados dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, do Canadá e de outras nações aliadas desembarcaram em cinco praias, a 06 de junho de 1944, sob fogo cerrado das tropas da Alemanha nazi - as autoridades francesas, os sobreviventes agradecidos da Normandia e outros admiradores dizem "obrigado", e simultaneamente "adeus", pois é cada vez menor o número de veteranos, com mais de noventa anos, que regressam para recordar amigos mortos e façanhas que mudaram a história.
"Sete mil dos meus amigos fuzileiros foram mortos. Vinte mil foram baleados, feridos, colocados em navios e enterrados no mar", disse Don Graves, um veterano do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA que serviu em Iwo Jima, no teatro de operações do Pacífico.
"Quero que os mais jovens, a geração mais jovem, saibam o que fizemos", disse Graves, que fazia parte de um grupo de mais de 60 veteranos.
Para Neil Hamsler, de 63 anos, um antigo paraquedista do exército britânico, ver a costa do sul de Inglaterra recuar hoje através das janelas de um dos três aviões de transporte C-47 que o levaram a ele e a outros paraquedistas através do Canal da Mancha até à zona de lançamento na Normandia, foi como viajar no tempo até ao 'Dia D'.
"Pensei que aquela teria sido a última imagem de Inglaterra que alguns daqueles rapazes de 1944 tiveram", disse.
O veterano mais novo do grupo tem 96 anos e o mais velho 107, segundo a sua transportadora de Dallas, a American Airlines.
"Fizemos o nosso trabalho, voltámos para casa e pronto. Acho que nunca falámos sobre isso. Durante 70 anos não falei sobre isso", disse outro dos veteranos, Ralph Goldsticker, um capitão da Força Aérea dos EUA que serviu no 452º Grupo de Bombardeiros.
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