Uma grade de segurança montada pela polícia no passeio separava os participantes do grande edifício da representação diplomática, também rodeada por uma cintura de segurança desde os inícios da guerra na Ucrânia.
A pouco metros da embaixada, numa árvore, foi montado uma espécie de altar em honra do opositor, que morreu repentinamente em fevereiro passado numa prisão do Ártico. Num cartaz junto ao tronco, uma frase em inglês que lhe é atribuída e atravessa a sua foto: "Não chega ser apenas contra a guerra. Vamos lutar contra a guerra. Navalny, 04/06/1976-16/02/2024".
Nos troncos, pendem pequenos cartazes, em russo e inglês - "Não desistam", "Putin é um assassino" - e alguém colocou um ramo de flores na base do improvisado memorial.
Surge uma aparelhagem, e ecoa pela rua "My way", de Sinatra, música que Navalny pediu fosse tocada no seu funeral. A maioria dos presentes tem máscaras com a cara de Navalny, já colocadas, outros têm mais cartazes, tudo em inglês ou russo: "Voltarei!", "Fascismo nunca mais" - com o símbolo nazi equiparado ao "Z" russo - "Vitória da Ucrânia, segurança da Europa".
Também surgem bandeiras com duas faixas horizontais brancas e uma azul clara, no meio. Para se distinguir da atual bandeira oficial da Rússia.
"Hoje queremos celebrar e estar aqui em memória de Alexei Navalny. Hoje faria 48 anos, mas na nossa memória coletiva vai ficar como um homem de 47 anos", diz à Lusa Ksenia Ashrafullina, uma russa radicada em Portugal.
"A mensagem principal é que agora todos somos Navalny, somos muitos Navalnys. Fizemos estas máscaras porque a mensagem que deixou é agora a nossa. Cada um de nós é agora uma parte de Navalny. Esta ideia são também os ideais e o sonho desta futura Rússia maravilhosa que não morreu, mas multiplicou-se".
A aparelhagem continua a expelir música, desta vez um grupo russo, estilo 'rock'. Os presentes, muitos em silêncio, formam um círculo e exibem as suas mensagens para algumas câmaras.
"Queremos antes de tudo que acabe a guerra, que a Rússia se torne um país democrático, aberto, onde finalmente possamos viver sem esta oligarquia e corrupção, e que as pessoas possam ser livres e fazer parte do mundo livre", prossegue Ksenia. "São coisas universais, provavelmente aquilo que os portugueses pretendiam com a Revolução do 25 de Abril. Precisamos do nosso 25 de Abril, sermos dignos e livres".
Hoje, em vários locais da Europa, incluindo em Moscovo, celebrou-se o aniversário do principal opositor de Vladimir Putin, um percurso turbulento e contraditório até ser apontado como uma possível alternativa ao líder do Kremlin. Ficou pelo caminho, mas os seus partidários tornaram-no num mito.
Figura carismática que se destacou pelos seus inquéritos anticorrupção e crítico do poder do Kremlin (presidência russa), Navalny morreu numa prisão do Ártico em fevereiro passado.
Em Moscovo, e apesar da repressão aos setores da oposição, alguns dos seus apoiantes cobriram a sua campa com dezenas de retratos, notas, desenhos, flores e textos manuscritos, segundo a AFP, que acrescentou que dezenas de pessoas, na maioria jovens, entoaram canções acompanhadas à guitarra, enquanto outras choravam.
A viúva do opositor Yulia Navalnaya assistiu a um serviço religioso numa igreja de Berlim, presidido por um padre ortodoxo proibido de exercer o ofício na Rússia devido a declarações contra a ofensiva na Ucrânia, segundo os 'media' russos.
"Navalny já era um mito quando estava vivo, é um mito que dá forças, o exemplo de uma pessoa que se sacrificou para este futuro. Não fugiu nem abandonou a causa. Morreu pela causa, e isso dá-nos a responsabilidade de prosseguir. E este futuro vamos ser nós a construir", assegurou à Lusa a ativista russa.
Surgem carros da polícia, porque a Associação de russos livres pretende iniciar uma marcha, até aos Restauradores. Rodeados por um pequeno cordão de agentes, com a aparelhagem em alto som, os cerca de 20 participantes avançam pelas ruas da cidade.
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