A Cimeira para a Paz, que decorre entre este sábado e domingo, em Bürgenstock, na Suíça, visa debater um plano de paz para a Ucrânia com representantes de 92 governos e 55 líderes mundiais, na sequência da invasão da Rússia ao país há mais de dois anos. Este domingo, as expectativas estão centradas no conteúdo da declaração final que será adotada.
Neste sentido, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, manifestou-se convicto de que "vai ser feita história" na Cimeira para a Paz na Suíça, fazendo votos para que os esforços conjuntos a nível global garantam uma "paz justa tão cedo quanto possível" ao seu país.
Durante o discurso de abertura da Cimeira, o líder ucraniano disse estar "agradecido" pela presença dos líderes mundiais que estão envolvidos no início das "negociações para uma paz duradoura" na Ucrânia, ao mesmo tempo que declarou que o homólogo russo, Vladimir Putin, "tem de mudar o seu registo de ultimatos".
"Putin tem de mudar o seu registo de ultimatos para um registo de que a maioria do mundo quer, com uma paz justa", disse, durante o seu discurso de abertura, ao mesmo tempo que apontou que "se a Rússia estivesse interessada na paz, não haveria guerra".
Zelensky apontou ainda que a Ucrânia está disponível para "ouvir todas a propostas", pretendendo "apostar em três elementos essenciais do processo de fórmula para a paz", entre os quais está a "libertação de prisioneiros e de deportados, adultos e crianças, militares e civis, cujas vidas foram afetadas pela guerra".
"Um mundo unido é um mundo de paz", salientou o ucraniano.
"Primeiro passo", "posição de força" ou "mensagem clara". O que os líderes mundiais dizem sobre a Cimeira para a Paz?
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou a forte e diversificada adesão de países e organizações à Cimeira para a Paz na Ucrânia, considerando que tal dá "um aspeto global muito importante" a este "primeiro passo" para o fim da guerra.
Essa convergência, em torno da "preocupação da paz e caminho para a paz", foi manifestada por países não só da União Europeia (UE) ou da NATO, "mas também do mundo árabe, do mundo africano e do mundo asiático", congratulou-se Marcelo Rebelo de Sousa, que constatou empenho de todos em "trabalhar para conclusões comuns" a serem adotadas no domingo.
Para o Chefe de Estado português, o sucesso desta cimeira será medido pelo "número de participantes", pela "adesão ao comunicado final" e a sua "importância".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu, por sua vez, que é vital a comunidade internacional "reafirmar o primado da Carta das Nações Unidas", que a Rússia está a violar com a sua "guerra brutal".
"Será correto que um país maior possa invadir e tomar o território de um vizinho mais pequeno? A resposta é, obviamente, não. Está escrito na Carta das Nações Unidas. E é por isso que é vital que reafirmemos essa Carta. É vital que nos comprometamos de novo a defender firmemente os princípios da Carta das Nações Unidas", afirmou Von der Leyen.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que "dependerá da Ucrânia" decidir "quando será possível" um acordo de paz com a Rússia, sublinhando que qualquer acordo deverá respeitar as normas de Direito Internacional.
"Esta guerra tem um agressor, que é a Rússia, e uma vítima, que é a Ucrânia. O povo ucraniano tem o direito de defender os seus filhos, as suas casas e as suas cidades", declarou Michel, durante a primeira sessão plenária da cimeira.
Por sua vez, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu que esta conferência deve enviar à Rússia "uma mensagem muito clara" de que há princípios inegociáveis, nomeadamente o respeito pela soberania de um país.
"Qualquer solução que valide a agressão ou a anexação violenta não será sustentável, apenas conduzirá a um mundo mais instável e perigoso", disse Sánchez no seu discurso no plenário desta cimeira.
O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que a paz na Ucrânia "não pode ser uma capitulação" do país e que espera "uma paz que respeite as leis internacionais e que devolva à Ucrânia a sua soberania".
"Estamos todos determinados a construir uma paz duradoura. E como muitos de vós referiram, essa paz não pode ser uma capitulação ucraniana", afirmou Macron, sublinhando que "há um agressor e uma vítima" e que "esta guerra é um problema mundial".
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, exortou Zelensky a apresentar as suas condições de paz com a Rússia "a partir de uma posição de força", acusando Putin de não ter "qualquer interesse numa paz genuína" e de ter lançado uma campanha de dissuasão para manter outros países fora da cimeira.
"Devemos perguntar à Rússia por que razão se sente tão ameaçada por uma cimeira que aborda os princípios básicos da integridade territorial, da segurança alimentar e da segurança nuclear. A partir de uma posição de força, temos de trabalhar com o presidente Zelensky para estabelecer os princípios de uma paz justa e duradoura, com base no direito internacional e na Carta das Nações Unidas", observou Sunak.
Também o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, alertou que as tensões causadas na Europa pelo conflito "podem amanhã estender-se à Ásia Oriental", sublinhando o apoio do Japão à Ucrânia desde o início da invasão.
"Apraz-me ver que tantos países se reuniram aqui com o objetivo comum de alcançar a paz na Ucrânia, uma paz que deve ser duradoura e assente nos princípios da Carta das Nações Unidas, que não admite justificação alguma para alterar o 'statu quo' pela força ou a coerção", declarou.
Objetivo da conferência? "Inspirar um futuro processo de paz"
De salientar que a Suíça acolhe este fim de semana (15 e 16 de junho) a Cimeira para a Paz na Ucrânia, que junta representantes de perto de uma centena de países e organizações, mas sem a participação da Rússia nem da China, entre outros ausentes de peso.
Vários países lamentaram a ausência da Rússia desta Cimeira de Paz para a Ucrânia, considerando que qualquer processo de paz credível requer a participação de Moscovo.
Portugal está representado pelo Presidente da República o e também pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
O objetivo da conferência, organizada pela Suíça na sequência de um pedido nesse sentido de Zelensky, é "inspirar um futuro processo de paz", tendo por base "os debates que tiveram lugar nos últimos meses, nomeadamente o plano de paz ucraniano e outras propostas de paz baseadas na Carta das Nações Unidas e nos princípios fundamentais do direito internacional".
Por diversas ocasiões, Moscovo deplorou a realização de uma conferência baseada no plano de paz apresentado em finais de 2022 por Zelensky, que prevê na sua versão inicial uma retirada das tropas russas do território ucraniano, compensações financeiras por parte das autoridades russas e a criação de um tribunal para julgar os responsáveis russos. O Kremlin também acusou a Suíça de perder a neutralidade ao alinhar-se com as sanções europeias.
A China, um dos grandes aliados de Moscovo e vista como intermediária fundamental para futuras conversações de paz, rejeitou participar na cimeira dada a ausência da Rússia, tendo Zelensky acusado Pequim de trabalhar em conjunto com o Kremlin para sabotar a conferência, ao pressionar países para não participarem.
Entre os participantes - cerca de metade dos quais da Europa - contam-se ainda a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, o chanceler alemão, Olaf Scholz, entre outros.
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