"É um crime. Mas a palavra é mais forte do que 'crime'. O agravamento da pena de prisão [decidida na terça-feira por um tribunal iraniano] por mais um ano, depois de já a ter aumentado em dois anos em janeiro passado não tem em conta a lei e não tem qualquer fundamento", afirmou Rahmani, em declarações à agência Lusa, expressando-se em farsi, com as suas palavras a serem traduzidas para português por um cidadão iraniano residente em Portugal.
Rahmani está em Lisboa, onde chegou hoje, para apresentar o livro "Tortura Branca", escrito pela mulher em 2023 e editado em Portugal em abril deste ano sob a chancela da Casa das Letras (do grupo Leya) e que foi apresentado no Instituto Francês, na capital portuguesa.
Na terça-feira, um tribunal de Teerão condenou Narges Mohammadi a mais um ano de prisão por "propaganda contra o sistema" quando criticou a imposição do véu islâmico e apelou ao boicote das eleições legislativas, realizadas em março deste ano.
O advogado da ativista, que esteve presa entre 2016 e 2020 e encontra-se novamente detida desde 2021, anunciou que no "veredicto emitido pela 29.ª câmara do Tribunal Revolucionário de Teerão, [Narges Mohammadi] foi condenada a um ano de prisão por propaganda contra o sistema".
Hoje, em declarações à Lusa, o marido da ativista de 51 anos, confirmou as palavras do advogado e acrescentou que Narges está presa em Evin, estabelecimento prisional em Teerão, ao lado de 70 outras mulheres e que a decisão de agravar novamente a pena deve-se ao facto de uma outra presa política ter sido vítima de sevícias por parte dos guardas prisionais e de a Nobel da Paz ter conseguido transmitir essas informações para fora da prisão.
"Desde que está presa, Narges sempre procurou denunciar as injustiças feitas às outras mulheres presas, conseguindo sempre denunciar essas mesmas injustiças para fora da prisão. Em janeiro acrescentaram mais dois anos e esta semana a mais um", relatou.
"O motivo está relacionado com a prisão de uma outra mulher, Dina Ghalibaf, também ativista dos direitos humanos. Esta mulher confidenciou a Narges que, durante a detenção, foi violada, assediada, maltratada, espancada. Narges conseguiu enviar esse relato para fora da prisão. Não devia estar presa. Deve ser libertada porque está presa pelo facto de ter revelada a verdade", sublinhou Rahmani.
O livro "Tortura Branca", de Narges Mohammadi, relata as experiências de 13 outras mulheres, além da própria experiência da autora, nas "prisões infames" no Irão, onde são, segundo conta, vítimas de "humilhações cruéis, de assédios e espancamentos, de isolamento total, sem assistência médica, com interrogatórios extenuantes e castigos severamente punitivos".
A ativista iraniana já foi condenada seis vezes desde 2021 a um total de 13 anos e três meses de prisão e 154 chicotadas, entre outros castigos.
Apesar das condenações e da prisão, a ativista continuou a denunciar as violações dos direitos humanos no Irão, incluindo a aplicação da pena de morte e a violência contra as mulheres que não usam o véu islâmico ('hijab').
Em abril, Narges denunciou a nova campanha para reimpor o uso do 'hijab' e afirmou que as autoridades iranianas transformaram as ruas do país num "campo de batalha contra as mulheres".
Narges apelou igualmente ao boicote das eleições legislativas de março de 2024, que registaram a taxa de participação mais baixa (41%) nos 45 anos da Revolução Islâmica.
No final do ano passado, enviou uma carta aos parlamentos da Noruega e Suécia, países associados aos galardões Nobel, afirmando que a República Islâmica não representa o povo do Irão.
A ativista foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 2023 "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos".
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