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Campanha no Reino Unido? Gafes de Sunak e Starmer e o vaso chinês

A caricatura do líder trabalhista, Keir Starmer, aterrorizado a segurar um vaso chinês tem sido usada frequentemente para retratar a estratégia cautelosa do Partido Trabalhista para as eleições legislativas britânicas de 04 de julho.

Campanha no Reino Unido? Gafes de Sunak e Starmer e o vaso chinês
Notícias ao Minuto

08:08 - 26/06/24 por Lusa

Mundo Reino Unido

O principal partido da oposição tem uma vantagem média de 20 pontos percentuais nas sondagens e receia que um pequeno deslize possa destruir a possibilidade de voltar ao poder, 14 anos depois, e de destronar a atual liderança conservadora.

A expressão "Um homem a transportar um precioso vaso Ming num chão muito polido" foi criada por Roy Jenkins (antigo presidente da Comissão Europeia) para descrever a prudência do também trabalhista Tony Blair (primeiro-ministro britânico 1997--2007) durante a campanha para as legislativas de 1997.

O politólogo Tony Travers, professor na universidade London School of Economics (LSE), referiu, num encontro com jornalistas, que "é mais difícil para o 'Labour' [Partido Trabalhista] ganhar eleições" do que para o Partido Conservador.

Desde 1945, os 'tories' (conservadores) estiveram no poder 65% do tempo e os trabalhistas apenas 35%, ilustrou. 

"Nas últimas eleições (2019), o Partido Trabalhista perdeu severamente, apesar de ter registado largas vitórias em alguns círculos eleitorais precisos, enquanto os votos dos conservadores estavam espalhados de forma mais uniforme", explicou à Agência Lusa.  

No início da campanha, vários órgãos de comunicação social britânicos comentaram que Starmer tinha uma pessoa dedicada a garantir que não cometia erros embaraçosos, como a fotografia do antigo líder do Partido Trabalhista Ed Miliband a comer desajeitadamente uma sanduíche em 2014.

O plano parece ter funcionado razoavelmente.

Segundo um "gafómetro" (que mede as gafes cometidas pelos candidatos políticos) da empresa de sondagens More in Common para o 'podcast' The News Agents, o pior caso do 'Labour' foi a confusão com a candidatura de Diane Abbott, a primeira deputada negra britânica. 

Abbott, que esteve suspensa por declarações alegadamente antissemitas, só foi autorizada a concorrer depois de vários dias de polémica no início da campanha no fim de maio. 

Menos importante, mas notada pelos eleitores, foi a afirmação recente de Starmer de que o antecessor Jeremy Corbyn, entretanto expulso do partido, teria sido melhor primeiro-ministro do que o conservador Boris Johnson.

Outro momento constrangedor aconteceu quando a audiência de um debate televisivo se riu do líder trabalhista porque este lembrou que o pai era fabricante de ferramentas, algo que repete regularmente para invocar as suas origens humildes.

No entanto, o atual primeiro-ministro britânico, o conservador Rishi Sunak, protagonizou mais e piores lapsos, segundo o mesmo "medidor de gafes", a começar pelo anúncio das eleições legislativas em Downing Street (gabinete oficial do primeiro-ministro)) sob chuva torrencial, durante o qual acabou encharcado. 

Logo no dia seguinte, descuidou-se numa visita ao País de Gales ao perguntar a um grupo de pessoas se estavam entusiasmados com o Campeonato Europeu de Futebol, esquecendo-se que a seleção galesa não tinha sido apurada como a inglesa e a escocesa.

Seguiu-se uma visita à Irlanda do Norte, aos estaleiros onde foi construído o Titanic, durante a qual um jornalista perguntou se o primeiro-ministro era o "comandante de um navio a naufragar".

Ao lado, o ministro Chris Heaton-Harris não conseguiu esconder um sorriso.

Mas os piores fiascos de Sunak foram a decisão de faltar a uma cerimónia internacional em França, a 06 de junho, para assinalar o 80.º aniversário do Dia D, data-chave da II Guerra Mundial, o que o obrigou a pedir desculpa, e o recente escândalo das apostas.

Na terça-feira, o Partido Conservador retirou o apoio e suspendeu dois candidatos suspeitos de terem apostado na data das eleições antes de ser anunciada publicamente, e outros dois funcionários estão a ser investigados.

"Não é bom que as histórias que as pessoas geralmente veem como trapalhadas estejam mais associadas ao Partido Conservador. O Partido Trabalhista esteve mais discreto durante a campanha, ao passo que Rishi Sunak não conseguiu dar um impulso à campanha para dar a volta à situação", afirmou, por sua vez, a professora da LSE, Sarah Hobolt.

O debate televisivo de hoje na estação pública britânica BBC entre Keir Starmer e Rishi Sunak é considerado a última oportunidade para alterar o rumo da opinião pública, embora muitos eleitores já tenham votado por correspondência.

Se o Partido Trabalhista não cometer nenhum tropeção nos próximos oito dias e ganhar as eleições com maioria absoluta histórica, como indicam as sondagens, a estratégia do vaso chinês terá resultado. 

Tony Travers lembrou, a este propósito, um adágio da política britânica: "A oposição não ganha eleições - os governos perdem-nas".

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