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Bairro mais à esquerda de Paris vai às urnas com críticas a Macron

Os eleitores do 20.º bairro de Paris, o mais à esquerda da capital, começaram hoje a deslocar-se às urnas divididos entre o receio com o crescimento da extrema-direita e críticas à dissolução da Assembleia Nacional decidida por Emmanuel Macron.

Bairro mais à esquerda de Paris vai às urnas com críticas a Macron
Notícias ao Minuto

12:38 - 30/06/24 por Lusa

Mundo França

"Tenho medo que estas eleições vão atirar a França para os braços da extrema-direita, mais do que para a instabilidade política. Ainda não percebi porque é que o Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional: só ajudou a extrema-direita. Já tinham vento nas velas e só lhes deram mais um empurrão para chegarem à meta", diz à Lusa Laurent, de 41 anos.

Laurent é um entre as dezenas de eleitores que, desde as 08:00 (07:00 de Portugal continental), começaram a convergir para o liceu Voltaire, no 20.º bairro de Paris, numa manhã de sol que contrasta com a chuva que se abateu sobre a cidade no sábado e que parece estar a incentivar os eleitores a ir às urnas.

Segundo dados divulgados pelo Ministério do Interior francês, até às 12:00 locais, cerca de 25,9% ter dos eleitores tinham votado, um aumento de 7,5% quando comparado com a primeira volta das últimas legislativas, em 2022.

Neste liceu do 20.º bairro de Paris, a menos de cinco minutos a pé do cemitério Père-Lachaise - onde estão enterradas personalidades como o vocalista dos Doors Jim Morrison ou o escritor Oscar Wilde -, vários eleitores consideram que a única solução para o país sair de um bloqueio institucional é o voto na coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês).

"Acho que, com a Frente Popular, pode-se impedir o crescimento da extrema-direita. É preciso responder à raiva que motiva o voto na União Nacional (Rassemblement National, em francês) e acho que a esquerda pode fazê-lo", refere à Lusa Marie, de 33 anos, que considera que um Governo de extrema-direita seria "um pesadelo para o país".

Foi este tipo de raciocínio que fez com que, há dois anos, na primeira volta das legislativas, a coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES, na sigla em francês) tenha obtido, neste círculo eleitoral, o seu melhor resultado eleitoral em Paris: com 53,74% e mais de 24 mil votos, Sophia Chikirou, braço direito do líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, conseguiu ser eleita logo na primeira volta.

Dois anos depois, a candidata volta a apresentar-se neste círculo eleitoral, mas parece ter perdido alguma popularidade: no cartaz da sua candidatura que está à frente do liceu Voltaire, o seu retrato e o de Mélenchon foram riscados e alguns insultos escritos.

"Hoje, há muita gente que vem votar nela, mas com o dedo à frente do nariz", diz à Lusa Thierry Sessin-Caracci, que qualifica a candidata de estalinista e 'apparatchik'.

Para procurar apelar aos eleitores desiludidos com a candidata, Thierry Sessin-Caracci decidiu apresentar uma candidatura neste círculo eleitoral, sob o nome "A esquerda digna", que é favorável a entendimentos com partidos centristas e recebeu o apoio de Daniel Cohn-Bendit, uma das principais figuras do movimento de maio de 1968.

"Pretendemos representar uma voz mais equilibrada, talvez menos eloquente na retórica, mas através da qual poderíamos evitar, caso haja uma maioria relativa na Assembleia Nacional, um bloqueio: seríamos deputados suscetíveis de fazer alianças com Republicanos moderados e centristas", disse.

Esta estratégia pode apelar a eleitores como Sylvain, de 47 anos, que veio hoje às urnas afirmando perceber a estratégia política de Macron ao dissolver a Assembleia Nacional - "quis pôr a extrema-direita a governar para depois ninguém votar nela nas presidenciais" - e diz esperar que os partidos centristas se aliem até 2027.

"Isto está feio dos dois lados: a união das esquerdas também não é genial. Estamos numa situação catastrófica. É preciso que os partidos do centro encontrem rapidamente uma maneira de voltar a ter relevância antes de 2027, senão vai ser uma catástrofe", frisa.

Já Alain, de 77 anos, veio até ao liceu Voltaire resignado com a dissolução da Assembleia Nacional, notando a quebra da bolsa francesa que, segundo avisa, "agora vai verdadeiramente afundar-se".

"A União Nacional não é competente e não está pronta para governar. Aliás, até estou persuadido de que eles próprios, no fundo, não querem", diz. Hoje, às 20:00 de Paris, quando forem divulgadas as projeções televisivas, vai-se ter uma primeira pista.

Leia Também: Participação nas legislativas francesas regista forte aumento às 12h

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