"Na semana passada, os nossos amigos turcos propuseram uma mediação a pedido da Etiópia, mas lamentavelmente a posição da Etiópia manteve-se inalterada, o que levou ao cancelamento do processo de mediação antes que pudesse começar", disse Hassan Sheikh Mohamud no sábado aos deputados, de acordo com a agência espanhola de notícias, a Efe, que cita os meios de comunicação locais.
"É importante sublinhar que a Somália não cancelou a mediação, mas sim que a Etiópia solicitou o seu adiamento", afirmou o Presidente, dias depois de a Somália e a Etiópia, sob mediação da Turquia, terem concordado em resolver as suas diferenças por meios pacíficos durante uma reunião em Ancara.
O Governo etíope, argumentou Mohamud, "continua a fugir à responsabilidade pelo seu erro diplomático, ao ignorar as normas e as leis internacionais que defendem as nações civilizadas; a Etiópia nunca se comprometeu de maneira amigável a resolver os problemas em atuais".
Na sexta-feira, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, defendeu no parlamento o acordo com a região independentista da Somalilândia para aceder ao Mar Vermelho, apesar das tensões diplomáticas que criou com as autoridades somalis.
"O acesso ao Mar Vermelho é fundamental para a crescente economia e população da Etiópia; o memorando de entendimento que assinámos com a Somalilândia produziu-se depois de o Governo da Somália se ter negado a falar com a Etiópia primeiro", disse Abiy, citado pela Efe, nas respostas às perguntas dos deputados etíopes.
Este é o mais recente episódio da crise diplomática que eclodiu entre os dois vizinhos em 01 de janeiro, quando a Etiópia e a Somalilândia - uma região autoproclamada independente - assinaram um memorando de entendimento para garantir o acesso do país sem litoral ao Mar Vermelho.
O pacto permitiria à Etiópia ter uma base naval permanente e um serviço marítimo comercial no Golfo de Aden através de um acordo de arrendamento de 20 quilómetros de costa por 50 anos.
Em contrapartida, segundo o Presidente da Somalilândia, Muse Bihi Abdi, a Etiópia reconheceria o território como um país independente, embora a Etiópia tenha afirmado que ainda não avaliou este pedido.
O acordo foi considerado ilegal e anulado por Mohamud, enquanto a União Africana (UA), a União Europeia (UE) e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, um bloco de oito países da África Oriental), e as Nações Unidas, através do seu secretário-geral, António Guterres, apelaram ao desanuviamento através do diálogo.
Todavia, mesmo depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo dos Sete (G7) - os países mais desenvolvidos - se terem juntado a este pedido, o Governo somali rejeitou qualquer diálogo, a menos que o pacto fosse cancelado primeiro.
No meio da escalada de tensões, Mogadíscio ordenou, em abril, o regresso ao seu país do embaixador etíope na Somália e o encerramento de dois consulados etíopes nas regiões da Somalilândia e da Puntlândia.
A Somalilândia, um protetorado britânico até 1960, não é reconhecida internacionalmente, embora tenha Constituição, moeda e Governo próprios e melhor desenvolvimento económico e mais estabilidade política do que a Somália.
A região declarou a sua separação da Somália, uma antiga colónia italiana, em 1991, quando o ditador somali Mohamed Siad Barre foi derrubado.
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