Lavrov culpa EUA por violência e pelo "derramamento de sangue" em Gaza

O líder da diplomacia russa responsabilizou hoje os Estados Unidos pela "explosão de violência sem precedentes" no Médio Oriente e pelo "derramamento de sangue" em Gaza, argumentando que tal acabaria se Washington travasse o apoio a Israel.

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Lusa
17/07/2024 17:59 ‧ 17/07/2024 por Lusa

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Médio Oriente

"Colegas, a atual explosão de violência sem precedentes no Médio Oriente é em grande parte uma consequência do fracasso da política dos Estados Unidos da América (EUA) na região", avaliou Serguei Lavrov, que presidiu hoje ao debate trimestral do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação no Médio Oriente, com foco na questão palestiniana.

 

"Fornecendo cobertura diplomática às ações de Israel e fornecendo-lhes armas e munições, Washington, é claro para todos, tornou-se um complexo diretor no conflito, tal como acontece com a situação na Ucrânia. Se os EUA cessassem o seu apoio, o derramamento de sangue cessaria, mas os EUA ou não querem ou não podem fazê-lo", acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, país que assume este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU.

Lavrov criticou ainda a ineficácia do Conselho de Segurança em travar a guerra na Faixa de Gaza, uma vez que as resoluções aprovadas continuam sem pôr um fim ao conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas.

"Quatro resoluções foram adotadas. No entanto, o derramamento de sangue em curso nos territórios palestinianos ocupados apenas reafirma que todas essas decisões permaneceram escritas no papel", observou o político russo.

Lavrov lançou também duras críticas aos apelos feitos por Washington no Conselho de Segurança desde o início da guerra, em outubro passado, para que os diplomatas reduzissem os esforços na ONU em detrimento dos esforços norte-americanos no terreno.

Os EUA "usaram o seu poder de veto repetidamente para bloquear apelos a um cessar-fogo imediato, permanente e abrangente", assinalou o ministro, apesar de a Rússia ser igualmente acusada de usar o poder de veto que detém no Conselho de Segurança para bloquear resoluções contra a invasão da Ucrânia.

"Ao que parece, o que lhes importa [aos EUA] não é salvar vidas humanas, mas sim diversas manobras que ajudariam a marcar mais pontos durante a campanha eleitoral", defendeu Lavrov, que teve o seu discurso interrompido momentaneamente por duas ativistas que se encontravam na plateia do Conselho de Segurança.

Num raro protesto dentro da sede da ONU, em Nova Iorque, as duas mulheres ergueram cartazes e gritaram pela libertação de reféns israelitas detidos pelo Hamas, mas cessaram o protesto após terem sido confrontadas pelos seguranças.

Na sua intervenção, o ministro recordou que a Rússia condenou o ataque do Hamas contra Israel, mas reforçou que a situação em Gaza "é inaceitável".

Por sua vez, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, saiu em defesa do papel de mediador que Washington tem desempenhado na procura por um cessar-fogo, evitando responder às críticas tecidas pelo líder da diplomacia russa.

"Como este Conselho bem sabe, nada é fácil em relação a garantir a paz. E o progresso não é certamente tão rápido como todos desejaríamos que fosse. Vemos isso nas negociações em curso para um cessar-fogo imediato com a libertação de reféns em Gaza", observou a diplomata, enaltecendo a persistência dos Estados Unidos, do Qatar e do Egito neste processo.

Apesar de admitir a demora, Thomas-Greenfield referiu que as negociações estão a "caminhar na direção certa".

A embaixadora também apelou a Israel que tome medidas imediatas para eliminar barreiras à prestação de auxílio aos palestinianos e expressou preocupação com o aumento da violência contra civis palestinianos por parte de "colonos extremistas violentos na Cisjordânia", condenando essas atividades "nos termos mais fortes".

A representante dos EUA, principal aliado de Israel, instou ainda Telavive a tomar medidas imediatas para responsabilizar os responsáveis pelos atos de violência e pela instabilidade na Cisjordânia.

Momentos antes, também o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia alertado para o risco de "danos irreparáveis" do avanço israelita na Cisjordânia ocupada, onde a própria geografia "está a ser constantemente alterada" por Israel.

"Os desenvolvimentos recentes estão a colocar em jogo qualquer perspetiva de uma solução de dois Estados [Israel e Palestina]. A geografia da Cisjordânia ocupada está a ser constantemente alterada através de medidas administrativas e legais israelitas", disse Guterres, num discurso que foi lido pelo seu chefe de gabinete, Earle Courtenay Rattray.

Ainda no debate de hoje na ONU, o embaixador israelita, Gilad Erdan, atribuiu ao Irão o principal papel de desestabilizador no Médio Oriente, país que acusou de ser "muito maior e mais poderoso que o Estado Islâmico e também está perto de ter armas nucleares".

[Notícia atualizada às 18h45]

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