Apesar dos estreitos laços económicos, diplomáticos e militares com Moscovo, que se reforçaram ainda mais desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, Pequim pretende desempenhar o papel de mediador no conflito.
A visita de Dmytro Kuleba, que deverá prolongar-se até sexta-feira, é a sua primeira à China desde o início da invasão russa.
Surge também após as fortes críticas da NATO à ajuda económica de Pequim a Moscovo. Mas, acima de tudo, surge uma semana depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter aberto pela primeira vez a porta a conversações com a Rússia, ao afirmar ser favorável à participação de Moscovo numa futura cimeira de paz.
Uma primeira cimeira foi organizada em meados de junho na Suíça, com dezenas de países representados. Mas a Rússia não foi convidada e a China decidiu não participar, por considerar que não havia qualquer hipótese de progresso.
"O principal tema de discussão vai ser a procura de formas de travar a agressão russa e o papel da China na obtenção de uma paz duradoura e justa", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, em comunicado.
Pequim, que considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos, nunca condenou a invasão russa e acusa a NATO de negligenciar as preocupações de segurança de Moscovo.
Mas o país asiático também apelou, no ano passado, numa proposta de paz, ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados - incluindo a Ucrânia.
A China pretende apresentar-se como um parceiro comedido em comparação com o Ocidente, que acusa de "deitar lenha para a fogueira", ao fornecer armas à Ucrânia.
No início de julho, o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou à comunidade internacional para "criar as condições" para um "diálogo direto" entre Kiev e Moscovo, durante um encontro, em Pequim, com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
O enviado de Pequim para a questão ucraniana, o experiente diplomata Li Hui, antigo embaixador em Moscovo, fez várias viagens a Bruxelas, Rússia, Ucrânia, Médio Oriente e Turquia.
Pequim apela ao fim dos combates, uma posição criticada pelo Ocidente, que considera que isso equivale a permitir à Rússia consolidar as suas conquistas territoriais na Ucrânia.
A China estabeleceu as condições para a sua participação: uma cimeira deve, na sua opinião, "permitir a participação igual de todas as partes" e uma "discussão justa de todos os planos de paz" - incluindo a posição russa.
A China oferece um apoio económico crucial à Rússia, que é alvo de pesadas sanções ocidentais.
No início de julho, os dirigentes dos países membros da NATO manifestaram a sua "profunda preocupação" com a crescente parceria entre os dois países.
Esta ajuda é regularmente denunciada pelo Ocidente, que acusa nomeadamente as empresas chinesas de venderem à Rússia produtos de "dupla utilização" (civil e militar), tais como componentes e outros equipamentos necessários à manutenção da máquina de guerra russa.
A China nega e afirma que exerce um controlo rigoroso sobre as exportações deste tipo de produtos, incluindo os veículos aéreos não tripulados ("drones") civis. No entanto, americanos e europeus estão a impor sanções às empresas chinesas acusadas de ajudar Moscovo.
Leia Também: Zelensky? "Falar num tom sobre o diálogo é melhor que intenção de lutar"