Dos detidos ao corte de relações. Clima de tensão perdura na Venezuela

O país foi a votos no domingo e o presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor. Desde então, registaram-se manifestações em vários pontos do país, resultando em pelo menos 11 mortes e quase 750 detidos.

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© FEDERICO PARRA/AFP via Getty Images

José Miguel Pires
31/07/2024 08:08 ‧ 31/07/2024 por José Miguel Pires

Mundo

Venezuela

A Venezuela vive momentos de alta tensão desde as eleições de domingo, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou vencedor o presidente Nicolás Maduro. A oposição do país rejeita, porém, os resultados oficiais declarados, denunciando fraude e garantindo que, na realidade, o candidato opositor Edmundo González venceu com mais de 70% dos votos.

 

O país foi palco de várias manifestações multitudinárias, fustigadas por opressão violenta das autoridades. Daí resultou a morte de pelo menos 11 pessoas e a detenção de cerca de 750 pessoas, até ao momento.

Entre as detenções estão, aliás, três figuras importantes da oposição política. São eles o líder do partido Vontade Popular e coordenador do movimento opositor Com a Venezuela, Freddy Superlano, e o coordenador juvenil do partido Causa R, Rafael Sivira - que foram detidos em Caracas -, e o ex-presidente da Câmara Municipal de Marcano, José Ramón Díaz, que foi detido na ilha de Margarita.

Os tumultos causaram preocupação na comunidade portuguesa residente na Venezuela. À agência Lusa, uma mulher portuguesa, de 62 anos, mostrou-se principalmente preocupada com a possibilidade de perder acesso a medicamentos de que precisa regularmente. 

"Se pudesse comprava medicamentos para três ou quatro meses, mas não tenho dinheiro para isso, às vezes até tenho que ver o que é prioritário e ir duas vezes ao mês à farmácia", disse Ermelinda Olim.

A preocupação estende-se ao Executivo português, que, pela voz do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, disse que "até este momento" não há "notícia de qualquer português alvo de qualquer situação que pudesse pôr em causa a sua própria segurança".

Portugueses temem que protestos na Venezuela afetem o dia a dia

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Vários portugueses disseram hoje à Lusa temer que os protestos nas ruas de várias cidades venezuelanas, contestando os resultados oficiais das presidenciais de domingo, venham a prologar-se por longo tempo, afetando o quotidiano das pessoas.

Lusa | 21:49 - 30/07/2024

Comunidade internacional duvida de resultados oficiais

Ao nível internacional, alguns Estados alinharam-se com a incerteza da oposição venezuelana sobre a veracidade dos resultados anunciados pelo CNE, exigindo uma verificação transparente dos mesmos.

A União Europeia (UE), por exemplo, já avançou que não reconhecerá Maduro como presidente legítimo do país até que os resultados estejam oficialmente verificados. "As autoridades venezuelanas devem garantir a transparência e a integridade do processo através da verificação independente dos resultados das assembleias de voto", disse o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, em declarações aos jornalistas.

Na mesma onda esteve o Peru, que foi além: Reconheceu, oficialmente, Edmundo González como presidente legítimo da Venezuela, considerando o anúncio da vitória de Maduro "um fraude".

"Esta posição é compartilhada por numerosos países, governos e organismos internacionais", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Peru, Javier González-Olaechea, ao canal estatal TV Peru.

Peru reconhece candidato da oposição venezuelana como presidente eleito

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O governo do Peru reconheceu hoje o candidato eleitoral da oposição venezuelana, Edmundo González Urrutia, como presidente eleito, considerando "uma fraude" a declaração pelas autoridades eleitorais em Caracas de Nicolás Maduro como vencedor.

Lusa | 21:36 - 30/07/2024

Como resposta, Caracas optou por romper oficialmente relações diplomáticas com Lima, "na sequência das declarações desrespeitosas do ministro dos Negócios Estrangeiros [do Peru] que não tiveram em conta a vontade do povo venezuelano", segundo escreveu o diplomata máximo do governo de Nicolás Maduro, Yvan Gil, na rede social X (antigo Twitter).

Recorde-se que Caracas já tinha ordenado a retirada do pessoal diplomático do Peru após as eleições.

Caracas ordenou, ainda, a retirada do pessoal diplomático de outros países na sequência das eleições de domingo, nomeadamente a Argentina, o Chile, a Costa Rica, o Panamá, a República Dominicana e o Uruguai.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, acusou o regime de Maduro de "manipulação fraudulenta" e "repressão", desafiando-o a esclarecer se aceitará a derrota, caso se comprove a vitória reivindicada pela oposição liderada por María Corina Machado.

No sentido oposto, países como a Rússia, o Irão e a China congratularam Nicolás Maduro, eleito pela primeira vez em 2013 para o cargo, pela reeleição.

O CNE anunciou a vitória de Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos, perante o principal candidato da oposição, Edmundo González, que não terá passado dos 44%.

A oposição rejeitou, porém, os resultados anunciados, afirmando que existe fraude e que, segundo as atas eleitorais a que teve acesso, Edmundo González foi mesmo eleito presidente do país, com mais de 70% dos votos.

Leia Também: Peru reconhece candidato da oposição venezuelana como presidente eleito

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