Pedro Sánchez disse que o processo em que a mulher, Begoña Gomez, está a ser investigada por suspeita de tráfico de influências e corrupção em negócios é "um não caso" originado pela "frustração e impotência da oposição" de direita e extrema-direita.
Para o primeiro-ministro, face aos que considera serem os atuais bons resultados da economia espanhola ou à normalização da situação na Catalunha, após a tentativa de autodeterminação de 2017, quando governava o Partido Popular (PP, direita), a oposição perdeu argumentos, porque "Espanha está mais próspera e mais unida".
"O que há é um governo que governa e uma oposição que fabula", afirmou Sánchez, que falava no Palácio da Moncloa, a sede do Governo espanhol em Madrid, durante uma conferência de imprensa convocada para fazer o balanço do ano político antes das férias de verão.
Sobre a queixa por prevaricação que apresentou contra o juiz que tutela a investigação que envolve a mulher, por o ter impedido de testemunhar por escrito, Sánchez afirmou que o objetivo é reivindicar a separação de poderes no Estado de direito.
A queixa foi apresentada em nome de Sánchez pela Advocacia Geral do Estado, um órgão que, em Espanha, está integrado na estrutura do Governo e que noutros países, como Portugal, está dentro das competências do Ministério Público.
"O que a Advocacia Geral do Estado fez foi defender a instituição da Presidência do Governo de Espanha porque viu como foram atropelados direitos" reconhecidos à instituição, disse Sánchez, referindo-se aos termos indicados na lei que preveem que o primeiro-ministro testemunhe por escrito em casos relacionados com o exercício do cargo.
Na queixa que foi apresentada, "defende-se a dignidade da instituição da Presidência do Governo e reclama-se a separação de poderes", sublinhou.
Sánchez considerou também "uma montagem" a deslocação do juiz na terça-feira ao Palácio da Moncloa, com a intenção de o interrogar e gravar as declarações, negando-lhe o direito de testemunhar por escrito.
O magistrado, representantes do Ministério Público, advogados das defesas e uma advogada do partido de extrema-direita Vox, em representação das "acusações populares" que se constituíram neste caso, deslocaram-se na terça-feira à Moncloa para recolher o testemunho de Sánchez, que acabou por invocar o direito ao silêncio de testemunhas quando estão em causa investigações relativas aos seus cônjuges.
Sánchez considerou hoje também "extremamente patético e vergonhoso" que várias organizações de extrema-direita tenham estado à porta da Moncloa a disputar qual delas deveria entrar na sede do Governo com o juiz e lamentou a tentativa de judicialização da política e de politização da justiça nos últimos anos em Espanha, desde que o Vox entrou no espaço público.
A investigação de que é alvo Begoña Gómez tem como base queixas de associações ligadas à extrema-direita e centra-se, em particular, na sua relação profissional com um empresário cujas empresas negociaram ajudas públicas ou participaram em concursos públicos num período em que Pedro Sánchez já era primeiro-ministro.
Em linha com as conclusões de dois relatórios da investigação policial, o Ministério Público considerou não haver indícios de irregularidades e fundamento para o caso e pediu o arquivamento, não havendo ainda resposta a este recurso.
Pedro Sánchez e o Partido Socialista espanhol (PSOE), que lidera, têm reiterado não haver nada que fundamente esta investigação judicial e que está em causa uma perseguição política e pessoal.
Juntamente com a lei de amnistia para os independentistas catalães, este caso é há meses o principal alvo de ataque ao primeiro-ministro por parte da oposição.
Este caso foi também o motivo que levou Sánchez a ponderar demitir-se no final de abril, afirmando-se vítima, com a família, de uma "máquina de lodo" que difunde mentiras e desinformação na Internet que são depois levadas para o debate político pela direita e pela extrema-direita e judicializadas com queixas de associações extremistas.
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