Venezuelanos concentram-se contra fraude e para dizer basta de violência
Centenas de venezuelanos concentraram-se hoje em Las Mercedes (leste de Caracas) contra a fraude nas eleições presidenciais de 28 de julho, pela liberdade e para dizer basta de violência contra a oposição.
© FEDERICO PARRA/AFP via Getty Images
Mundo Venezuela
"Estamos aqui para demonstrar que a Venezuela não se rende. Para dizer que no domingo, dia 28, anunciaram uma fraude eleitoral e que o Supremo Tribunal de Justiça reafirmou o tirano como Presidente desta nação", disse um dos manifestantes à agência Lusa.
John Cisneros, comunicador social, do bairro pobre de Petare, um dos maiores da América Latina, assegurou que "os venezuelanos só reconhecem um Presidente", o opositor Edmundo González Urrutia.
Acrescentou que o regime tenta passar a imagem de que a oposição é violenta, e insistiu: "não somos criminosos".
"Já não temos medo. Apesar da perseguição e das advertências, da repressão, dos raptos, das detenções, de ser perseguidos nas nossas casas, hoje estamos nas ruas para dizer que não reconhecemos este Governo e [estamos] lutando pela liberdade, pela democracia, porque queremos uma Venezuela livre, pacífica", disse, sublinhando que se nega a abandonar o país.
Beatriz Milano, bioanalista, saiu às ruas para que a Venezuela volte a ser a mesma em que já viveu e possa reencontrar-se com a família, que emigrou, e ver crescer as netas.
"Não somos violentos. Quando se tem a verdade, não se é violento", disse, sublinhando que confia em María Corina Machado e no seu substituto, Edmundo González Urrutia, a quem chama de "Presidente".
Na manifestação estava também Ana María Montilla, uma freira carmelita da Madre Candelária, que disse querer liberdade e estar preocupada com o futuro dos jovens.
"Pelos homens e mulheres que foram vítimas da violência de um Governo que detém o monopólio do poder (...), não há liberdade nem autonomia e onde não podemos dizer que temos um Supremo Tribunal de Justiça, um Conselho Nacional Eleitoral, com autonomia", explicou.
"Somos livres e queremos manifestar o nosso repúdio pela violência (...) sou testemunha de como maltrataram muitos jovens, apenas porque se manifestavam pacificamente e sem violência. Também de como vários funcionários agrediram cidadãos, que apenas diziam querer uma Venezuela livre", prosseguiu.
Ana Montilla disse que viu como as forças de segurança atiram bombas de gás lacrimogéneo e dispararam balas de borracha contra os manifestantes.
Rafael Benavides, engenheiro petroquímico, disse ter saído à rua para apoiar a luta por uma Venezuela livre e democrática.
A docente do pré-escolar Verónica Orozco foi à manifestação com uma imagem do Cristo da Misericórdia e um rosário, para pedir pela paz e reconciliação do país e questionou os atuais governantes se 25 anos no poder não são suficientes.
"Que façam uma transição. Perderam [as eleições], procurem encontrar-se com Deus (...). Maduro aceita que perdeste e entrega o poder. Queremos paz e a reconciliação de todos", disse.
Insistiu que a oposição não é violenta e exemplificou que estava nas ruas apenas com um rosário e uma imagem do Senhor da Misericórdia.
María Ángel Muñoz, estudante de contabilidade pública, declarou que quer ser livre e respeitada.
"Já me roubaram a infância, a adolescência, não quero que acabem de me roubar a juventude (...), quero que a minha filha cresça no país de que os meus pais tanto falam", disse sublinhando que os pais eram professores.
"Quero ser livre, expressar o que sinto sem ser reprimida, humilhada, espancada, maltratada, presa, sem ser chamada de assassina, sem ser chantageada por um saco de comida (...) tenho balas de borracha na coluna e um tornozelo partido porque fui ferida nas manifestações de 2017 e aqui estou de novo, a lutar por mim, pela minha filha, pela minha família", disse.
Várias pessoas recusaram-se a conversar com a Lusa por receio de serem identificadas e sofrerem represálias. Algumas colocaram como condição só gravar se o rosto não fosse visível ou fosse desfocado.
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