Joseph Kabila está "a preparar uma insurreição", afirmou Tshisekedi, que acusou igualmente o seu antecessor de coordenar ou pertencer à Aliança Francesa do Congo (AFC), um movimento político-militar que inclui o Movimento 23 de Março (M23), um grupo rebelde apoiado pelo Ruanda, que se apoderou de vastas áreas da província de Kivu do Norte, no leste da RDCongo, desde o final de 2021.
"A AFC é ele", assegurou Tshisekedi, sem dar mais pormenores, nesta entrevista concedida à rádio congolesa Top Congo, na Bélgica, onde se encontra para tratamento médico, e publicada pela Presidência da República Democrática do Congo na sua conta na rede social X.
Em dezembro, Corneille Nangaa, antigo presidente da comissão eleitoral da RDCongo, anunciou a criação da Aliança do Futuro do Congo (AFC) com o M23.
Joseph Kabila chegou ao poder em 2001, após o assassínio do seu pai Laurent-Désiré Kabila, que derrubou o antigo ditador Mobutu Sese Seko em 1997.
Em janeiro de 2019, Kabila entregou o poder a Félix Tshisekedi, um antigo opositor, declarado vencedor das controversas e amplamente contestadas eleições presidenciais de dezembro de 2018, marcando a primeira transferência pacífica de poder desde a independência do país, em 1960.
Após dois anos de uma "cogestão" conflituosa do país, Tshisekedi declarou uma rutura com o clã político de Kabila e, desde então, o antigo presidente tem-se mantido muito discreto nas suas aparições, nunca tomando posição sobre as questões políticas do país.
Em meados de março, a opositora Jaynet Kabila, irmã gémea do antigo Presidente, foi interrogada durante várias horas pelos serviços secretos militares da RDCongo.
Alguns dias antes, a sede da Fundação Mzee Laurent-Désiré Kabila, de que Jaynet Kabila é presidente, foi objeto de buscas pelos serviços secretos militares.
Vários membros do Parti du Peuple pour la Reconstruction et la Démocratie (PPRD), de Joseph Kabila, juntaram-se à AFC e aguardam o veredicto de um tribunal militar em Kinshasa, onde poderão ser condenados à pena de morte.
Em dezembro de 2023, o PPRD boicotou as eleições gerais no país, e Félix Tshisekedi foi reeleito com mais de 73% dos votos nas presidenciais, que a oposição considera terem sido marcadas por uma "multiplicidade de irregularidades".
O M23 é um dos mais de 100 grupos armados ativos no leste da RDCongo, muito rica em ouro, metais raros fundamentais às maiores tecnológicas mundiais e vários outros recursos minerais. A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar ativamente o M23.
O M23 - constituído em 04 de abril de 2012, quando 300 soldados das Forças Armadas da RDCongo se sublevaram por alegado incumprimento do acordo de paz de 23 de março de 2009, que dá nome ao movimento, e pela perda de poder do seu líder de então, Bosco Ntaganda - voltou a pegar em armas no final de 2021, depois de uma década adormecido.
Desde então, conquistou grandes áreas do território do Kivu do Norte e provocou a deslocação de centenas de milhares de pessoas na província de Kivu do Norte.
As Nações Unidas apontam para a existência de mais de 7 milhões de pessoas deslocadas no leste da RDCongo, no que constitui uma das maiores crises humanitárias do mundo.
A RDCongo acusa o Ruanda e o M23 de tentarem deitar a mão aos minerais no leste do Congo. O M23, pelo seu lado, alega estar a defender uma parte ameaçada da população tutsi a viver no Kivu do Norte.
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