A confirmação judicial do governo provisório, composto pelo Prémio Nobel Muhammad Yunus e mais de uma dúzia de conselheiros da sociedade civil, ocorre pouco depois de o filho da antiga dirigente, conhecida como a "dama de ferro" do Bangladesh, ter afirmado que Hasina não se demitiu formalmente.
O Supremo Tribunal do Bangladesh "emitiu um parecer segundo o qual, uma vez que a primeira-ministra se demitiu e o Presidente dissolveu o parlamento nacional, pode ser formado um governo de gestão para exercer as funções executivas do Estado", declarou em comunicado.
Assim, o Presidente do país, Mohammed Shahabuddin, "pode nomear o conselheiro-chefe - que serve como primeiro-ministro de facto - e outros conselheiros para o governo provisório e ser empossado", de acordo com o comunicado emitido pelo gabinete do Supremo Tribunal.
O filho e conselheiro de Sheikh Hasina, Sajeeb Wazed, disse à EFE horas antes que a líder bengalesa "tecnicamente ainda é a primeira-ministra do Bangladesh".
Apesar de a demissão de Hasina ter sido anunciada pelo Exército na segunda-feira, no meio da revolta civil que exigia a sua saída, Wazed, que vive nos Estados Unidos, disse que Hasina queria demitir-se "mas não teve tempo", pois uma multidão de manifestantes dirigiu-se para a sua residência oficial e ela teve de fugir de helicóptero.
O dia 5 marcou o culminar de semanas de protestos, que começaram como um movimento estudantil contra um sistema de quotas para empregos públicos considerado discriminatório.
A espiral de violência causada por uma repressão policial sustentada por apoiantes da Liga Awami de Hasina e a reação dos estudantes transformaram o protesto num movimento de massas, uma vez que os mortos e feridos continuavam a chegar às morgues dos hospitais e clínicas.
Wazed afirmou mesmo que a sua mãe "quer regressar ao Bangladesh e que talvez 'a porta da política não se tenha fechado para ela'.
O governo provisório de Yunus, formado com o apoio do Exército e do Presidente, não divulgou um calendário para futuras eleições.
Mas "tecnicamente", reafirmou o filho de Hasina, uma vez dissolvido o Parlamento, devem ser organizadas eleições no prazo de 90 dias.
Entretanto, diretores prisionais disseram hoje à AFP que 12 reclusos morreram e centenas de outros escaparam em duas fugas no Bangladesh, nos dias de agitação que se seguiram à destituição da primeira-ministra Sheikh Hasina.
Cerca de 12 reclusos morreram e centenas de outros escaparam em duas fugas de prisões no Bangladesh, nos dias de agitação que se seguiram à destituição da primeira-ministra Sheikh Hasina, disseram hoje à AFP os guardas prisionais.
Seis reclusos foram mortos na prisão de Jamalpur (norte) na quinta-feira, depois de os guardas terem sido atacados por prisioneiros que tentavam fugir, disse à AFP o diretor da prisão, Abu Fatah.
Na terça-feira, seis prisioneiros foram também mortos a tiro durante uma fuga de uma prisão de alta segurança em Kashimpur, apenas 30 quilómetros a norte da capital Daca, disse também à AFP o seu diretor Lutfor Rahman.
"Pelo menos 203 prisioneiros também conseguiram escapar", acrescentou.
A prisão de alta segurança de Kashimpur alberga alguns dos reclusos mais conhecidos do Bangladesh, incluindo extremistas islâmicos e assassinos.
No dia em que Hasina foi destituída do poder, na segunda-feira, mais de 500 reclusos fugiram de uma prisão no distrito de Sherpur, no norte do país.
Os sindicatos da polícia convocaram uma greve na terça-feira e disseram que os agentes não regressariam ao trabalho enquanto a sua segurança não fosse garantida.
Mais de metade das esquadras de polícia do país reabriram entretanto, segundo a polícia.
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