A Procuradoria-Geral do México surpreendeu, no início desta semana, num caso que envolve o país, os Estados Unidos... e droga. Em causa está o alegado rapto de Ismael Zambada, líder de uma das fações do cartel de Sinaloa, que diz ter sido raptado por Joaquín Guzmán López, outro narcotraficante.
Ambos os 'barões da droga' foram detidos nos EUA, no final de julho, no estado norte-americano do Texas, numa situação que deixou as autoridades "surpreendidas", segundo contaram as próprias na semana passada.
Os chefes das fações aterram num aeroporto norte-americano e foram detidos, mas os contornos da história estão a desenrolar-se de uma forma incomum.
Segundo o que Ismael Zambada, conhecido por 'El Mayo', contou, chegou a território norte-americano depois de ter sido raptado por Guzmán, um dos filhos de 'El Chapo'.
Numa carta obtida pela CBS News, Ismael Zambada reforçou a ideia de que foi raptado, garantindo que não se entregou às autoridades nem tinha nenhum acordo. "Pelo contrário, fui raptado e trazido até aos Estados Unidos contra a minha vontade", sublinhou.
Segundo o que explicou ao advogado, responsável pela missiva de duas páginas, o filho de 'El Chapo' disse-lhe que tinham um encontro com líderes locais a 25 de julho, incluindo com um político de Sinaloa, área onde atua o cartel.
Mas ao invés de se ter encontrado com o responsável mexicano em questão, 'El Mayo' referiu que foi levado para uma sala onde foi derrubado, lhe taparam a cabeça, foi algemado e depois levado numa carrinha para uma pista de aterragem - onde foi forçado a entrar num avião privado que finalmente o levou a ele e a Guzmán López para solo norte-americano.
Na carta, o narcotraficante pede ainda "paz" em Sinaloa no âmbito deste seu alegado rapto, assim como "transparência" aos governos dos Estados Unidos e México em eventuais negociações. "Nada pode ser resolvido com violência. Já percorremos esse caminho e todos ficam a perder", rematou na carta.
Quando detalharam a situação na semana passada, as autoridades norte-americanas corroboraram o rapto, para além de se revelarem surpreendidas, já que não havia 'sinal' nenhum de que Guzmán se entregaria. "Esta foi uma operação entre cartéis, onde um entregou o outro", explicou o chefe da polícia a semana passada.
A 'reviravolta'
A captura de 'El Mayo' valia 15 milhões de dólares, mas, numa 'reviravolta' que surpreendeu os envolvidos, a Procuradoria-Geral virou-se para Guzmán - que, se declarou inocente num tribunal em Chicago.
Em vez de 'agradecer' a Washington, no início da semana, a entidade anunciou a abertura de uma investigação criminal "pelos alegados crimes de voo ilegal, utilização ilícita de aeroportos, violações da imigração e das alfândegas, rapto, traição e quaisquer outros crimes que possam ser aplicáveis".
De acordo com a imprensa, esta 'reviravolta' no caso do cartel de Sinaloa está relacionada com um artigo no código penal do México que prevê até 40 anos de prisão para crimes de traição.
O motivo pelo qual 'levou' consigo 'El Mayo' são ainda desconhecidos, mas os dois homens, líderes de diferentes fações do mesmo cartel, têm estado envolvidos em disputas.
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