Brasil e China juntos na afinidade ideológica e "dinamismo económico"

O Brasil e China celebram na sexta-feira 50 anos do restabelecimento das relações diplomáticas, dois países que agora são lideres do chamado Sul Global e que, juntos, partilham uma afinidade ideológica alicerçada num "dinamismo económico evidente".

Notícia

© iStock

Lusa
14/08/2024 08:14 ‧ 14/08/2024 por Lusa

Mundo

Relações

 

"dummyPub"> 

"As nossas relações não se dão apenas por afinidades ideológicas, mas por esse dinamismo económico evidente", disse à Lusa, o diretor do Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fabio Borges.

O Brasil rompe em 1949 as relações com Pequim, na sequência da Revolução comunista chinesa, retomando-as só depois em 1974, já com um entendimento de que a relação "não se podia limitar apenas a temas de segurança e a 'ou você está com os Estados Unidos, ou você está com a União Soviética'", num período histórico marcado pela Guerra Fria, recordou o especialista em relações sino-brasileiras.

Antes mesmo da ligação ideológica (mais visível nos governos de Lula da Silva) e de a China se tornar no maior aliado económico brasileiro, já existiam pontos e ligações em comum, detalhou, Fabio Borges, como a noção da "autodeterminação dos povos, o principio da não-ingerência em assuntos externos de outros países, o principio da coexistência pacifica".

"Diferente dos Estados Unidos, a China pauta-se muito por esses princípios de relações mais horizontais", frisou o professor universitário, notando ainda que aos dias de hoje "a cooperação chinesa baseia-se mais em elementos económicos, tecnológicos do que imposições militares", mais utilizada pelos norte-americanos.

É precisamente no capítulo económico onde as relações entre os dois países mais se fazem notar, especialmente no século XXI.

Em 2003, de acordo com dados oficiais, o comércio entre os dois países cifrava-se em seis mil milhões de euros. Em 2009, a China torna-se no primeiro parceiro económico do Brasil e, em 2023, chegam aos 160 mil milhões de euros. A China é responsável por mais de metade do superávit brasileiro, alicerçada em produtos como a soja, minério de ferro e petróleo bruto.

A importância da China para o Brasil foi evidente numa das primeiras viagens oficiais de Lula da Silva ao assumir o seu terceiro mandato em 01 de janeiro de 2023, como recordou Fabio Borges, numa visita de Estado também para reafirmar a importância do parceiro estratégico, após quatro anos de turbulências diplomáticas causadas pela administração de Jair Bolsonaro, mais alinhada à política externa norte-americana da administração de Donald Trump.

Na ocasião, Lula da Silva levou consigo cerca de 40 políticos, entre ministros do Governo brasileiro e parlamentares e ainda cerca de 300 empresários brasileiros, principalmente do agronegócio, para o país que absorve cerca de 30% das vendas do setor ao exterior, segundo dados do Ministério da Agricultura do país sul-americano.

Agora, este ano, para dar o tiro de partido dos 50 anos de relações diplomáticas, foi a vez do vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, a deslocar-se à China com 200 empresários e a assinar quase uma dezena de acordos de reforço comercial nas áreas da agricultura, indústria, finanças, transição energética e mercados capitais.

"A China é um grande parceiro estratégico porque é o país mais dinâmico da economia mundial, no século XXI. Ninguém tenha dúvidas disso", frisou Fabio Borges, acrescentando que o Brasil poderá ser incluído na mega Iniciativa Faixa e Rota, anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em 2013, e que envolve dezenas de países no plano estratégico de Pequim de desenvolver ligações marítimas, rodoviárias e ferroviárias, mas também investimento em recursos energéticos.

Segundo informações divulgadas pelo Governo brasileiro, Xi Jinping poderá viajar ao Brasil este ano para uma visita de Estado. A data da viagem ainda não foi oficialmente confirmada, mas será provavelmente nas vésperas da Cimeira do G20, que vai acontecer no Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro.

No campo diplomático, o Brasil e China integram o grupo de países de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia, índia, China, África do Sul), um fórum onde a China "diante de uma escalada dos conflitos económicos com os Estados Unidos por conta do protecionismo" e as "tensões políticas por conta de Taiwan, vê os BRICS como um elemento de fortaleza da sua estratégia mais geral", considerou o professor.

A conjuntura tem também a aproximado os dois países, até porque Pequim "percebe que o Brasil pode ser um parceiro estratégico extremamente interessante na América Latina e nos fóruns internacionais" pela "simbologia de ser um país democrático" e que "compartilha a Amazónia" considerou.

Sobre as proximidades ideológicas, Fabio Borges admite existir uma "afinidade natural" entre os dois, apesar de a China exercer "uma influência, ainda que indireta, na maioria dos países do mundo" porque "é um grande parceiro comercial de todos os países".

"Em geral os países são muito cuidadosos de não confrontar a China nesses temas espinhosos do sistema internacional, em relação a Israel, em relação à Ucrânia, em relação à eleição na Venezuela também", sublinhou.

Na quinta-feira, o Congresso do Brasil fará a partir das 14:00 sessão solene para celebrar o Dia Nacional da Imigração Chinesa e o cinquentenário das relações diplomáticas entre Brasil e China. 

 

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas