No início da semana, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) anunciou que o surto de Mpox era uma emergência de saúde pública, com mais de 500 mortes confirmadas, apelando para ajuda internacional para travar a disseminação do vírus.
"Isto é algo que nos devia preocupar a todos... O potencial para uma disseminação além África é muito preocupante", disse o diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, adiantou a Associated Press (AP).
O continente africano tem poucas vacinas disponíveis de momento.
O CDC África disse que o Mpox foi detetado em 13 países este ano, e que mais de 96% dos casos e mortes são no Congo.
O número de casos subiu 160% e o de mortes 19% comparado com o mesmo período do ano passado.
"Estamos agora numa situação em que o Mpox representa um risco para muito mais vizinhos na África Central e à sua volta", disse Salim Abdool Karim, um especialista em doenças infecciosas sul-africano que preside ao grupo de emergência do CDC África.
Segundo o especialista, a nova variante do vírus vinda do Congo aparenta ter uma taxa de mortalidade de cerca de 3% a 4%.
Durante o surto global de Mpox em 2022 que atingiu mais de 70 países morreram menos de 1% das pessoas infetadas.
Segundo o CDC África, quase 70% dos casos no Congo são crianças menores de 15 anos, que também representam 85% das mortes.
Jacques Alonda, um epidemiologista a trabalhar no Congo com organizações de solidariedade internacionais, disse que ele e outros especialistas estão particularmente preocupados com a disseminação do Mpox em campos de refugiados na região este do país.
"O caso mais grave a que assisti foi o de um bebé de seis semanas que contraiu Mpox quando tinha apenas duas semanas. Foi infetado porque a sobrelotação do hospital obrigou a que o bebé e a sua mãe tivessem que partilhar um quarto com alguém que era portador do vírus, mas não estava diagnosticado", disse Alonda, que referiu que a criança está há um mês ao cuidado das organizações internacionais com quem trabalha.
A Save the Children disse que o sistema de saúde congolês já estava "em colapso" face aos casos de malnutrição, sarampo e cólera.
O diretor-geral da OMS disse que as autoridades enfrentam surtos de Mpox em vários países com "diferentes modos de transmissão e diferentes níveis de risco".
A agência das Nações Unidas disse que o Mpox foi recentemente identificado pela primeira vez em quatro países do leste africano: Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda. Todos esses surtos têm ligação a um no Congo. Na Costa do Marfim e na África do Sul as autoridades de saúde reportaram surtos de uma estirpe diferente e menos perigosa do vírus, que se disseminou globalmente em 2022.
Já este ano, cientistas tinham reportado o surgimento de uma nova forma de uma estirpe mais letal de Mpox, que pode matar até 10% dos infetados, detetada numa cidade mineira do Congo, receando que se pudesse espalhar mais facilmente.
O Mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual.
Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos genitais, tornando-o mais difícil de identificar, o que significa que as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.
Em 2022 a OMS declarou o Mpox como emergência global depois de se ter espalhado para mais de 70 países que não tinham qualquer historial de contacto com o vírus até então, tendo afetado sobretudo homens 'gays' e bissexuais.
Antes disso, a doença foi sobretudo detetada em surtos ocasionais na África central e ocidental quando as pessoas entravam em contacto com animais selvagens infetados.
Os países ocidentais contiveram o surto e a disseminação do vírus com a ajuda de vacinas e tratamento aos quais África praticamente não tem acesso.
As autoridades congolesas solicitaram quatro milhões de vacinas contra o Mpox, para inocular sobretudo crianças e jovens até aos 18 anos e os Estados Unidos e o Japão posicionaram-se para serem os fornecedores dessas vacinas ao Congo, segundo adiantou à AP Cris Kacita Osako, do comité de resposta ao Mpox neste país.
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