"É importante que o Sahel não se torne um buraco negro para a informação", declarou Sadibou Marong, diretor do escritório para a África Subsariana da Organização Não-Governamental (ONG), que promoveu esta iniciativa, aos jornalistas na capital do Mali, Bamako.
As rádios comunitárias do Sahel difundem notícias locais de médio alcance sobre saúde, educação e agricultura, geralmente nas línguas locais. Estas cobrem todo o país, num contexto de acesso restrito à informação por razões materiais, de segurança ou políticas, muitas vezes em zonas remotas. E operam num ambiente degradado, com vastas áreas entregues à propagação do terrorismo e às atividades dos grupos armados no Burkina Faso, Mali, Níger e Chade.
Os jornalistas relatam ter visto membros de grupos armados intervir junto deles para alterar o conteúdo dos programas, ou mesmo tomar conta das ondas de rádio, relatou Marong.
"No Chade, os jornalistas das rádios comunitárias são encontrados diretamente nas suas casas e mortos simplesmente porque cobriram conflitos latentes entre agricultores e pastores", afirmou.
A RSF constata a "incapacidade" dos governos para assegurar a sua proteção.
Desde novembro de 2023, dois jornalistas de rádios comunitárias foram mortos no Mali e no Chade, onde Idriss Yaya foi assassinado juntamente com a sua mulher e o seu filho, segundo a organização. Pelo menos quatro outros foram raptados.
A RSF afirma ter recolhido as assinaturas dos responsáveis de 547 rádios comunitárias dos países do Sahel e da África Ocidental para lançar um apelo às autoridades dos países do Sahel.
A ONG pede que investiguem sistematicamente todos os homicídios, que atuem para libertar os jornalistas raptados, que ajudem a reconstruir as instalações das rádios destruídas, que deem formação em segurança ao pessoal das rádios e que reconheçam a importância das rádios comunitárias na lei.
A RSF já descreveu de forma sombria o estado geral da imprensa no Sahel, que está em vias de se tornar "a maior zona livre de informação de África", afirmou a ONG em abril de 2023.
Na altura, a RSF descreveu os jornalistas encurralados entre a violência dos grupos armados, por um lado, e as restrições, pressões, suspensões de meios de comunicação social e expulsões de correspondentes estrangeiros pelas autoridades, por outro.
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