Bispos em Roma debatem futuro da Igreja que querem menos "piramidal"

O fim do "modelo piramidal" do exercício do poder na Igreja Católica, substituindo-o por um método "sinodal" é defendido no documento de trabalho para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer em Roma em outubro.

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Lusa
29/09/2024 10:54 ‧ 29/09/2024 por Lusa

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Para isso, o 'Instrumentum Laboris' (Instrumento do Trabalho) preparado para a sessão que decorrerá entre 02 e 27 de outubro, apela a uma transformação de "estruturas e processos" nas comunidades católicas e sublinha a necessidade de "superar uma visão estática dos lugares, que os ordena por níveis ou graus sucessivos segundo um modelo piramidal".

 

Neste ponto, o documento advoga que o ministério ordenado, passe "de um modo piramidal de exercitar a autoridade para um modo sinodal", de diálogo permanente com todos, e sublinha que "na Igreja o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária".

"A sinodalidade não implica, de modo algum, a desvalorização da autoridade e da missão específica que o próprio Cristo confiou aos pastores, os bispos com os presbíteros", continua o documento, defendendo a necessidade de um "descentramento do governo e da planificação pastoral".

Entre os 112 pontos que constituem o documento de trabalho, surge o alerta de que "a disponibilidade para a escuta de todos, especialmente dos pobres, promovida pelo estilo de vida sinodal está em nítido contraste com um mundo em que a concentração do poder exclui os pobres, os marginalizados e as minorias".

O Instrumento de Trabalho (IL) avisa, também, que se vive uma "época marcada por desigualdades cada vez mais acentuadas", e chama a atenção para a "crescente desilusão face aos modelos tradicionais de governo, pelo desencanto em relação ao funcionamento da democracia".

Apelando à "escuta das pessoas que vivenciam vários tipos de pobreza e marginalidade" e criticando a "cultura mercantil que marginaliza a gratuidade", o documento de base para a reunião no Vaticano aponta que "um mundo em crise, cujas feridas e desigualdades escandalosas ressoam dolorosamente no coração de todos os discípulos de Cristo".

O texto preparado pela Secretaria-Geral do Sínodo, a partir dos contributos que lhe chegaram, desde logo das Conferências Episcopais, depois da auscultação das comunidades católicas, defende, também, que uma Igreja sinodal "necessita da cultura e prática da transparência e prestação de contas", e alerta para a "perda de credibilidade resultante dos escândalos financeiros e principalmente dos abusos sexuais" que afetaram a Igreja Católica nos últimos anos.

Em destaque, ainda, a urgência de um maior protagonismo da mulher na Igreja, com os contributos recolhidos na fase de auscultação a apontarem para "a necessidade de conferir um maior reconhecimento aos carismas, às vocações e ao papel das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja".

Porém, as discussões ao longo da Assembleia Geral do Sínodo não vão incidir sobre a admissão das mulheres ao ministério diaconal.

O texto não esconde, porém, a necessidade de "participação mais alargada das mulheres nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos decisórios (proposta e tomada de decisões)", bem como um "acesso mais alargado a posições de responsabilidade", das dioceses aos seminários e faculdades de teologia.

A representação portuguesa na segunda sessão da Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos é composta pelos presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas e Virgílio Antunes, respetivamente, e pelo cardeal Américo Aguiar, por nomeação do Papa. Como "assistentes e colaboradores", estarão nos trabalhos o padre Paulo Terroso, da arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa.

Outro português, o cardeal José Tolentino Mendonça, toma parte nesta reunião enquanto prefeito do Dicastério para a Cultura e para a Educação.

Os trabalhos decorrem entre 02 e 27 de outubro, embora sejam antecedidos de dois dias de retiro, que começa em 30 de setembro e termina com uma celebração penitencial, em 01 de outubro, na qual serão escutados três testemunhos de pessoas que sofreram o "pecado" dos abusos, da guerra e da "indiferença perante o drama presente no fenómeno crescente de todas as migrações".

Além dos delegados de cada país, dos membros da Cúria Romana e das nomeações pontifícias, dos delegados das Igrejas Orientais Católicas, da União dos Superiores Gerais e da União Internacional das Superioras Gerais, participam nos trabalhos delegados de outras confissões religiosas, nomeadamente ortodoxos, anglicanos, luteranos, metodistas e evangélicos. No total, participam 368 pessoas, 272 das quais bispos.

Os trabalhos iniciam-se com uma missa presidida pelo Papa Francisco, na manhã de 02 de outubro. No dia 11 - dia em que abriu o Concílio Vaticano II, há 62 anos -- terá lugar uma Vigília Ecuménica, também presidida pelo pontífice.

Quatro fóruns teológico-pastorais, em 09 e 16 de outubro, sobre "O Povo de Deus, sujeito da missão", "O papel da autoridade do bispo numa Igreja sinodal", "A mútua relação Igreja local-Igreja universal" e "O exercício do Primado e o Sínodo dos Bispos" constam também no programa preparado pelo Vaticano, que inclui um segundo momento de retiro espiritual, em 21 de outubro, de preparação para a elaboração do documento final dos trabalhos.

O encerramento da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos acontecerá em 27 de outubro, com uma missa na Basílica de São Pedro.

Leia Também: Papa pediu à Igreja belga que se aproxime e ajude vítimas de abusos

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