Segundo a ONG suíça Inpact (Investigações com Impacto), estes aliados do Irão centralizam as operações no Mar Vermelho "através de uma entidade obscura", o HOCC, uma organização o mais próxima possível do poder Huthi, com comunicações diretas com os atores económicos.
"Por trás dos ataques de mísseis, ataques de drones e outras abordagens dos zodíacos pelos Huthis, está uma entidade liderada por um amigo próximo de Mehdi al-Machat, chefe de Estado de facto nos territórios controlados pelos Huthis no Iémen desde 2018", afiança a ONG.
O centro de coordenação, registado em Sanaa, nasceu em fevereiro de 2023 e constitui uma resposta à decisão tomada um mês antes pelos Estados Unidos de designar mais uma vez os Huthis como grupo "terrorista".
"[O HOCC] provavelmente participa na coordenação dos direcionamentos e ataques", estima o Inpact, do qual prevê uma "ancoragem a longo prazo".
Há meses que os rebeldes têm como alvo navios comerciais que acreditam estarem ligados a Israel, aos Estados Unidos ou ao Reino Unido, alegando que estão a agir em solidariedade com os palestinianos na Faixa de Gaza no contexto da guerra entre Israel e o movimento islâmico palestiniano Hamas.
"A organização é liderada por um certo Ahmed Mohamed Yahya Hamed, também conhecido como Ahmed Hamed, um ator influente dos Huthis, ambos próximos de Mahdi al-Mashat, presidente do Conselho Político Supremo dos Huthis, e das forças armadas Huthi", garante o Inpact.
Ahmed Hamed é, "possivelmente, o líder civil mais poderoso que não usa o sobrenome al-Houthi", consideraram especialistas das Nações Unidas sobre o Iémen em 2021.
Segundo o decreto de criação citado pelo Inpact, o HOCC deve "mitigar os efeitos e as repercussões humanitárias [...] no teatro de operações militares (...) através da adesão aos ensinamentos islâmicos e do respeito pelo direito internacional, pelo direito humanitário e outras regras relevantes".
Os ataques perturbaram gravemente o tráfego nesta área marítima essencial para o comércio mundial, levando os Estados Unidos a criar uma coligação marítima internacional e a atacar alvos rebeldes no Iémen, por vezes com a ajuda do Reino Unido.
Sexta-feira passada, os ataques norte-americanos e britânicos tiveram como alvo quatro cidades iemenitas controladas pelos rebeldes, segundo reportagens da televisão al-Massirah associada aos insurgentes. A União Europeia (UE) também destacou uma missão na área, chamada Aspides, para ajudar a garantir a liberdade de navegação.
A investigação revela também como o HOCC se arroga o direito de designar os navios autorizados a atravessar a área através do Estreito de Bab-el-Mandeb.
"[O centro], de facto, institucionaliza a guerra de guerrilha marítima levada a cabo pelo grupo armado e disponibilizou meios para que os navios se comunicassem diretamente com a organização, como rádios, telefones e e-mails), lê-se no relatório.
O Inpact publica uma carta dos Huthis enviada em março à Organização Marítima Internacional (IMO), agência da ONU responsável pela segurança do transporte marítimo.
O documento proíbe a navegação de quatro categorias de companhias marítimas: aquelas pertencentes, operadas ou dirigidas por Israel, os Estados Unidos e o Reino Unido, bem como aquelas cujos navios se dirijam para um dos portos de Israel.
Uma empresa que não se enquadre em nenhuma destas categorias é, no entanto, livre de circular os seus barcos, especifica a carta, que fornece um endereço de correio eletrónico para a contactar, a fim de evitar qualquer mal-entendido. O HOCC convida a IMO a informar os armadores, operadores e companhias de seguros.
Uma companhia marítima internacional confirmou à AFP, sob anonimato, ter recebido algumas mensagens dos Huthis, "mas de forma muito episódica, apenas uma ou duas vezes, e a última foi há oito meses". As mensagens, na sua essência, alertavam para não passar pela área sob pena de represálias.
O relatório também demonstra o poder do líder do HOCC na hierarquia dos Huthis. Ahmed Hamed é o chefe de gabinete do Presidente Mahdi al-Mashat.
"É conhecido como 'ra'is al-ra'is', o 'presidente do presidente', porque as decisões estratégicas do governo Huthi não são tomadas sem a sua aprovação", afirma o Inpact.
Segundo a ONU, Ahmed Hamed exerce, em particular, "influência sobre as nomeações de funcionários públicos, a intimidação de opositores e atividades corruptas, incluindo a apropriação indevida de ajuda humanitária".
Além do Irão, os Huthis parecem ter aliados fortes, com Washington a acusar a Rússia de discutir transferências de armas com os rebeldes iemenitas.
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