Mais de 300 trabalhadores humanitários já morreram em Gaza

Pelo menos 300 trabalhadores humanitários já morreram desde o início da guerra na Faixa de Gaza, declarou esta terça-feira a organização Médicos do Mundo (MdM) num relatório, alertando para os grandes obstáculos ao seu trabalho na região.

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Lusa
08/10/2024 15:31 ‧ 08/10/2024 por Lusa

Mundo

Faixa de Gaza

"Desde outubro de 2023, cerca de 300 trabalhadores humanitários perderam a vida. Morreram mais colegas humanitários em Gaza no último ano do que em qualquer outro ano de conflito e em qualquer parte do mundo. A MdM perdeu um colega quando o prédio onde vivia foi bombardeado pelo exército israelita na cidade de Gaza, em 05 de novembro de 2023. A maioria dos nossos colegas perdeu algum familiar ou amigo", indicou o relatório.

 

No documento, a organização não-governamental (ONG) Médicos do Mundo apresentou um relato detalhado de eventos e dados que cobrem o período de outubro de 2023 a setembro de 2024, demonstrando como a resposta médica da organização está a ser impedida de ser realizada, tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia.

"Os membros da equipa da Médicos do Mundo continuam a atuar na linha da frente e na prestação de ajuda humanitária em condições extremamente voláteis, enquanto eles próprios estão desprotegidos, deslocados, privados de alimentação e de vestuário adequados, e vulneráveis aos bombardeamentos, doenças e condições meteorológicas adversas", referiu a ONG.

De acordo com a organização, as instalações da Médicos do Mundo foram invadidas e danificadas pelas forças israelitas, apesar de a organização ter seguido claramente os procedimentos de 'desconflitualização'. Tanto os profissionais da Médicos do Mundo como as suas operações têm sofrido repetidas vagas de deslocamentos forçados, em resultado das ordens militares israelitas".

Em setembro de 2024, segundo a ONG, 92% dos colaboradores da Médicos do Mundo encontrava-se em situação de deslocamento forçado. As operações da MdM foram deslocadas mais de três vezes (da cidade de Gaza para Rafah, para a Middle Area - região entre a cidade de Gaza e Rafah - e para Khan Younis).

"Sempre que as nossas equipas recuperam alguma estabilidade, novas ordens de deslocamento israelitas obrigam-nas a recomeçar do zero", sublinhou a organização.

"Apenas quatro camiões com ajuda da Médicos do Mundo puderam entrar na Faixa de Gaza, ao longo do ano. Os carregamentos foram bloqueados entre um e dois meses antes de serem autorizados a entrar no enclave. A Médicos do Mundo teve de esperar 11 meses para que as autoridades israelitas autorizassem a abertura de um corredor humanitário desde a Cisjordânia, a menos de 50 quilómetros de distância, onde se encontra disponível grande parte dos artigos necessários à resposta médica de emergência em Gaza", frisou a ONG.

A organização referiu que na Cisjordânia ocupada, todas as equipas da Médicos do Mundo relataram que as restrições ao acesso e à circulação da ajuda humanitária se agravaram drasticamente desde outubro de 2023.

"Com o aumento acentuado dos ataques de colonos e a escalada dos ataques militares israelitas contra as comunidades palestinianas, as localidades que mais necessitam de ajuda humanitária são as mais perigosas e difíceis de alcançar. Além disso, em média, os atrasos nos postos de controlo israelitas fazem com que toda a equipa que opera no norte do enclave perca o equivalente a um dia inteiro de trabalho por semana", indicou.

"A maior parte dos factos referidos neste relatório podem constituir violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário. Israel, enquanto potência ocupante, tem o dever de assegurar o fornecimento adequado de alimentos, material médico, abrigo e outros recursos essenciais para a sobrevivência da população civil no território ocupado.

As autoridades israelitas não só não estão a cumprir esta sua obrigação, como estão a impedir o trabalho de salvamento dos agentes humanitários empenhados em assegurar a sobrevivência e as necessidades básicas da população civil palestiniana", denunciou Jean-François Corty, presidente da Médicos do Mundo França, uma das delegações da MdM presentes na região.

A Médicos do Mundo referiu que está "seriamente preocupada com a segurança da população palestiniana de Gaza e da Cisjordânia, assim como com os seus profissionais".

A ONG referiu que tem apelado constantemente aos Estados com influência sobre as partes envolvidas no conflito para que tomem medidas concretas para um cessar-fogo imediato e permanente, um acesso humanitário total e sem obstáculos, e o respeito pelo direito internacional humanitário em todos os Territórios Palestinianos ocupados.

Leia Também: O ambiente também está a sofrer em Gaza

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