O julgamento está previsto ser retomado em 20 de novembro para ouvir o testemunho do fundador do jornal Apple Daily, entretanto encerrado, e outras publicações.
Jimmy Lai, de 76 anos, é acusado de acusado de "conluio com forças estrangeiras" e sedição, à luz da lei de segurança nacional promulgada em 2020, enfrentando uma pena de prisão perpétua.
Lai cumpre atualmente uma pena de cinco anos e nove meses de prisão por duas acusações de fraude e também foi condenado a 20 meses de prisão por participar em protestos pró-democracia "não autorizados" em 2019 e 2020.
Para Sebastian Lai, a principal hipótese de libertação do pai, nascido na China mas detentor de nacionalidade britânica, dependerá da pressão política e diplomática sobre Pequim em defesa do ativista pela democracia e pela liberdade de imprensa.
"Estou cautelosamente otimista de que voltarei a ver o meu pai. Mas, para o trazer para casa, para o trazer de volta para o Reino Unido, o Governo precisa de fazer muito mais força do que até agora", afirmou hoje em Londres a um grupo de jornalistas, entre os quais a Agência Lusa.
Impedido de regressar ao antigo território britânico, cuja administração foi transferida para a China em 1997, Sebastian Lai acompanha à distância os desenvolvimentos e faz campanha pela libertação rápida do pai.
Pelas suas contas, Jimmy Lai, que tem uma idade avançada e sofre de diabetes, está há 1.341 dias em prisão regime de isolamento, pelo que "a situação em termos de saúde deteriorou-se bastante".
Além de refutar as acusações de que o pai estava por detrás dos protestos dos estudantes pró-democracia e com o objetivo de obter proveito próprio, Sebastian Lai receia que o julgamento não decorra de forma imparcial.
"Não há júri, há três juízes nomeados pelo governo e o ministro da segurança [de Hong Kong, Chris Tang] aludiu à culpa do meu pai mesmo antes do julgamento", criticou.
O processo tem sido atribulado. Inicialmente previsto para começar a 01 de dezembro de 2022, foi adiado para setembro de 2023 e novamente para dezembro.
A duração prevista era de 80 dias, mas a apresentação da acusação prolongou-se até junho de 2024, após a qual o julgamento foi novamente suspenso. As alegações da defesa são agora esperadas em novembro.
O julgamento de Jimmy Lai é o mais mediático de vários casos de jornalistas e ativistas pró-democracia a decorrer na justiça em Hong Kong.
Em setembro, Chung Pui-kuen, antigo chefe de redação do jornal Stand News, encerrado em 2021, e o antigo chefe de redação interino Patrick Lam foram condenados por sedição (contestação coletiva de autoridade ou poder estabelecido).
Outros ativistas políticos também foram condenados e dezenas de pessoas foram acusadas, aguardando julgamento, muitos em prisão preventiva.
Segundo a líder da equipa jurídica internacional de Jimmy Lai, Caoilfhionn Gallagher, a repressão de Pequim é refletida pelo aumento exponencial de prisioneiros políticos em Hong Kong, de 26 em 2019 para 1841 atualmente.
"O Sebastian nunca mais verá o seu pai se a atual trajetória continuar a mesma", avisou, considerando que o regime chinês querem fazer de Jimmy Lai um exemplo por ele ser tão conhecido.
Mesmo que só seja condenado a uma pena de "cinco anos, seis anos, 10 anos, é de facto uma pena de prisão perpétua" devido à sua idade avançada, constatou a advogada.
"Não tenham dúvidas, foi concebido para causar um arrepio na espinha de qualquer pessoa que queira ser jornalista em Hong Kong ou usar uma t-shirt [de protesto] ou cantar uma canção em Hong Kong de que as autoridades não gostem", afirmou.
Atualmente, a posição do Governo britânico é de que Jimmy Lai deve ser libertado imediata e incondicionalmente, subscrita por vários países, incluindo os Estados Unidos, e pela União Europeia.
Mas o filho e as outras pessoas e organizações envolvidas nos esforços para a sua libertação querem mais ação política porque a diplomacia pode ser a única solução, enfatizou a diretora de campanhas da organização Repórteres Sem Fronteiras, Rebecca Vincent.
"Pela nossa experiência, é extremamente difícil tirar alguém da prisão depois de ter sido condenado. Por isso, existe esta janela", afirmou, acrescentando que, "se há alguma coisa de positivo" no arrastar do processo, "é o facto de ainda não ser um assunto encerrado", pelo que o Governo britânico "tem de agir".
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