De acordo com a HRW e Instituto Cairo para os Direitos Humanos (CIHRS, na sigla em inglês), as autoridades Huthis "não apresentaram acusações contra muitos dos manifestantes, o que equivale a detenções arbitrárias".
Segundo as organizações não-governamentais (ONG), a revolução de 26 de setembro marca o estabelecimento da República Árabe do Iémen em 1962.
Os rebeldes Huthis, que controlam a capital do Iémen, Sana, e grande parte do norte do Iémen, acreditam que 21 de setembro, dia em que tomaram Sana, é a data que deveria ser celebrada pela população.
Para as ONG, os Huthis devem "libertar imediatamente todos aqueles que foram detidos apenas por exercerem o seu direito a liberdade de reunião e de expressão", assim como todos aqueles que permanecem em detenção arbitrária, incluindo as dezenas de funcionários da ONU e da sociedade civil presos e desaparecidos nos últimos quatro meses.
"A repressão aos protestos e a quaisquer atividades que divergem das crenças e ideologias Huthis é mais uma violação no extenso registo de abusos dos direitos humanos que cometeram no Iémen com total impunidade", disse Amna Guellali, diretora de investigação do Instituto Cairo para os Direitos Humanos.
A partir de 21 de setembro, os Huthis começaram a deter dezenas de pessoas nas províncias de Sanaa, Amran, Dhamar, Ibb, Hodeida, Al-Mahwit, Taizz, Al-Bayda, Al-Dhalea e Hajjah que teriam ligações com as comemorações.
Tais detenções e a proibição de todas as manifestações públicas parecem tentar impedir qualquer mobilização coletiva que pudesse desafiar o governo dos Huthis, segundo a HRW.
Um jornalista entrevistado pelo CIHRS disse que pelo menos 209 pessoas foram detidas só na província de Amran, incluindo crianças e idosos, "alguns dos quais com mais de 75 anos".
Segundo a Associação de Mães Raptadas, uma associação de vítimas do Iémen, "um número significativo de detidos são crianças e adolescentes entre 13 e 19 anos".
Em muitos casos, segundo as ONG, os Huthis detiveram pessoas por usarem ou agitarem uma bandeira do Iémen, ou por terem uma bandeira do Iémen nos seus carros. Noutros casos, detiveram pessoas por publicações nas redes sociais ou outras publicações comemorativas da revolução na internet.
Segundo as duas organizações, os Huthis não apresentaram um mandado de detenção ou de busca em nenhum dos casos, violando tanto a lei iemenita como o direito internacional.
Testemunhas disseram que os rebeldes os ameaçaram ou intimidaram para os impedir de publicar qualquer coisa sobre a revolução de 26 de setembro.
No seu relatório de 2023, o Painel de Peritos da ONU sobre o Iémen afirmou ter documentado muitos casos envolvendo detenção arbitrária, desaparecimento forçado e tortura no Iémen, acrescentando que "a maioria das violações investigadas pelo Painel foi atribuída aos Huthis".
As autoridades Huthis também detiveram arbitrariamente e fizeram desaparecer à força dezenas de funcionários das Nações Unidas e da sociedade civil desde 31 de maio, com fontes da Human Rights Watch sublinharem que o número de pessoas detidas continua a crescer.
Nos anos anteriores, os Huthis também detiveram centenas de manifestantes que comemoraram a revolução do 26 de setembro.
"Os Huthis continuam a apelar à comunidade internacional para que respeite os direitos dos palestinianos em Gaza, ao mesmo tempo que violam os direitos das pessoas que vivem nos territórios que controlam", disse Niku Jafarnia, investigador para o Iémen e o Bahrein da Human Rights Watch.
"Deviam mostrar ao povo iemenita o mesmo respeito que exigem pelos palestinianos, começando por acabar com esta interminável campanha de detenções arbitrárias", disse Jafarnia.
Leia Também: HRW pede à ONU para investigar ataques israelitas às missões de paz