"Nunca tivemos essa posição e sempre dissemos que devíamos encorajar ambas as partes a negociar, em vez de pedir a alguns dos países da UE [União Europeia] que aumentassem o seu orçamento de defesa", afirmou o embaixador do Irão em Lisboa, Majid Tafreshi, numa conferência de imprensa na embaixada iraniana em Lisboa.
Para Tafreshi, porém, a cooperação militar pode ser feita em simultâneo.
Questionado diretamente sobre se a Rússia não está a utilizar 'drones' iranianos no conflito com a Ucrânia, Tafreshi respondeu que não ouviu nada a esse respeito, insistindo na ideia da cooperação militar com a Rússia.
"Mas não é de agora. Não foi há dois anos. É muito mais antiga do que isto que temos [cooperação]. Não é com a Rússia, é com muitos países. Estamos a exportar e a importar [equipamento militar]. Penso que este tipo de atividades, por muito que digam que são falsas, ligadas à autodefesa e à cooperação com base no direito internacional, são legais", argumentou.
Para Tafreshi, não se deve perder de vista a realidade que explica a "catástrofe que ocorreu na Ucrânia" e o que aconteceu depois do fim do Pacto de Varsóvia e do alargamento da Organização do Tratado do Atlântico norte (NATO), instituição quer se tornou "desnecessária".
No seu entender, a invasão russa da Ucrânia, iniciada em 2014 com a ocupação da Crimeia e agravada com a invasão em grande escala de território ucraniano, cuja anexação Moscovo agora reivindica, está associada à hipótese de Kyiv aderir à Aliança Atlântica, algo que, para Tafreshi, é um erro.
"Porque precisamos da NATO? Porque a NATO é uma instituição militar, orientada para os militares. Porque é que precisamos dela depois do que aconteceu quando Varsóvia entrou em colapso? Os países não têm a sua própria independência, a Polónia, a Lituânia, a Letónia, a Estónia, vivem juntos. Porque é que precisamos de a ter para alargar o outro lado? A minha ideia, como profissional de direito internacional e como político, é que, ao alargarmos uma das margens, estamos automaticamente a inserir um perigo na margem oposta, mesmo que esta não exista", argumentou.
"A NATO para quê?, insistiu Tafreshi, sublinhando que a comunidade internacional "tem de se livrar das armas".
"Estamos a lutar por uma zona livre de armas nucleares e isso é um bom gesto. Precisamos de uma zona livre de guerras. É por isso que a comunidade internacional precisa de lutar. Caso contrário, porque as novas ameaças e as novas técnicas de perturbação da paz e da segurança, especialmente o sistema cibernético, o novo ator que não é necessariamente governamental, pode ser uma grande ameaça", defendeu o diplomata iraniano.
Questionado sobre o facto de um grupo de deputados ter apresentado recentemente no parlamento iraniano uma proposta para que seja possível alterar a "fatwa", decretada na década de 1990 pelo ayatollah Ali Khamenei, para permitir levar a uma utilização militar do programa nuclear, Tafreshi desdramatizou a questão.
"Isto é democracia. A democracia é o direito de dizer tudo o que quisermos, mas deve basear-se em algo. O veredicto claro do ayatollah Khamenei é bastante claro. É proibido. Na imposição de Saddam [Hussein, antigo presidente iraquiano], que muitos países apoiaram, mesmo alguns árabes, impusemos que não se utilizassem armas químicas. Nunca atacámos o Iraque com armas químicas a que até tínhamos acesso", sublinhou.
"Mas o que eu quero dizer é que isto são apenas ideias. Naquela altura, algumas pessoas disseram que precisávamos de os atacar com armas químicas, mas isso nunca aconteceu. Por isso, a tolerância é uma parte muito importante da nossa política externa. Mas o outro lado deve compreender e saber que temos acesso a informação suficiente para dispor desta tecnologia. Mas proibimo-la devido aos nossos valores islâmicos e humanos, como referiu o nosso líder", concluiu.
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