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O que pode explicar o número de mortos nas inundações em Espanha

Já morreram mais de 150 pessoas e o balanço de vítimas mortais não está fechado ainda.

O que pode explicar o número de mortos nas inundações em Espanha
Notícias ao Minuto

31/10/24 17:15 ‧ Há 2 Horas por Lusa

Mundo Espanha

O mau tempo que atingiu desde terça-feira o sudeste de Espanha provocou a morte a pelo menos 158 pessoas, o maior número no país desde as cheias mortais de outubro de 1973, quando morreram 300 pessoas.

 

Grandes quantidades de precipitação, presença de solos secos ou artificiais, falta de resposta das autoridades são alguns dos fatores que explicam um número tão elevado de vítimas, segundo especialistas consultados pela agência France-Presse (AFP).

Abaixo, são detalhados os motivos que levaram a esta situação.

Fenómeno meteorológico de rara violência

De acordo com a agência meteorológica espanhola (Aemet), o equivalente a "um ano de precipitação" caiu em apenas algumas horas em algumas localidades. Em Chiva, a oeste de Valência, foram registados nada menos do que 491 litros de chuva por metro quadrado.

Este dilúvio, ligado a um fenómeno de gota fria, uma depressão isolada em altitude bastante comum nesta altura do ano, atingiu uma proporção tão forte que fez com que vários rios saíssem dos seus leitos e provocasse a formação repentina de enormes torrentes de lama.

Foi um 'cocktail' dramático, segundo Jorge Olcina, professor de climatologia na Universidade de Alicante, que associa este acontecimento ao "aquecimento global".

Quando atingem esta magnitude, as gotas frias podem ter efeitos "muito semelhantes" a um furacão, assinala o investigador.

Solos secos e artificiais

A violência das cheias pode também ser explicada pela presença de solos secos nas zonas afetadas, tendo Espanha atravessado secas intensas nos últimos dois anos. Isto incentivou um fenómeno de escoamento superficial, com a terra a revelar-se incapaz de absorver toda a água.

Além disso, a região de Valência, a mais afetada pelas inundações, é caracterizada por numerosas áreas artificializadas, onde os espaços naturais deram lugar ao betão, totalmente impermeável.

Tem-se registado nos últimos anos uma "urbanização descontrolada e pouco adaptada às características naturais do território", o que hoje amplifica os riscos, sublinha Pablo Aznar, investigador do Observatório Socioeconómico de Cheias e Secas (OBSIS).

Área densamente povoada

A precipitação caiu sobre áreas densamente povoadas e, por isso, afetou automaticamente um grande número de pessoas.

A área metropolitana de Valência, no sudeste de Espanha, onde ocorreu a maioria das mortes, tem 1,87 milhões de habitantes, é a terceira maior cidade do país.

A densidade urbana "é um fator muito importante" para explicar o impacto destas inundações, observa Pablo Aznar, alertando que prevenir as cidades para os desastres climáticos constitui um desafio para as autoridades.

Hora de ponta nas estradas

A maior parte da chuva caiu ao final do dia, numa altura em que muitos moradores estavam na estrada.

Segundo as autoridades, muitas vítimas morreram nos seus carros, surpreendidas pela subida das águas enquanto regressavam a casa, ou na rua, após tentarem subir a árvores ou postes de iluminação.

Esta situação poderia ter sido evitada se estas pessoas tivessem sido avisadas a tempo de regressar a casa mais cedo, adverte Hannah Cloke, professora de hidrologia na Universidade de Reading (Reino Unido).

Falta de resposta das autoridades

A Aemet emitiu um alerta vermelho para a região de Valência na manhã de terça-feira, apelando para "grande cautela" face ao perigo extremo.

Mas o serviço de proteção civil só enviou a sua mensagem telefónica de alerta a partir das 20:00, instando os habitantes a não saírem de casa.

A falta de cautela de alguns moradores também é posta em causa: vários admitiram ter saído apesar dos avisos, explicando que não tinham consciência da gravidade da situação devido a alertas demasiado frequentes.

"Houve falhas de comunicação", mas há sem dúvida uma "responsabilidade partilhada", acredita Pablo Aznar, que aponta um problema na "cultura do risco" espanhola.

"A mentalidade coletiva ainda não está suficientemente adaptada aos novos fenómenos extremos", comenta.

Esta análise é partilhada por Jorge Olcina, da Universidade de Alicante: "Teremos de fazer muito mais para melhorar a educação sobre o risco nas escolas, mas também para toda a população, para que saibam como agir em caso de risco imediato".

Leia Também: AO MINUTO: Número de mortos sobe para 158; "Não abandonaremos Valência"

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