A entidade, formada por um consórcio de 119 organizações não-governamentais incluindo o Greenpeace, World Wide Fund for Nature (WWF) e a Conservação Internacional, destacou que o total de gases de efeito estufa emitido o ano passado no Brasil registou uma redução de 12% face a 2022, quando o país lançou na atmosfera 2,6 mil milhões de toneladas.
De acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, as emissões causadas pelas mudanças de uso da terra, que respondem por 46% de todos os gases de efeito estufa que o Brasil emitiu em 2023, registaram uma queda de 24%.
A organização credita o resultado positivo ao controlo do desflorestamento na Amazónia, retomado em 2023 com o regresso do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazónia, do Ministério do Meio Ambiente, já que os dados recolhidos indicaram que nos outros biomas brasileiros as emissões de gases de efeito estufa por conversão de vegetação nativa aumentou.
No Cerrado (bioma localizado na região centro-oeste do Brasil) houve aumento de 23%, na Caatinga (bioma localizado no nordeste do país) 11%, na Mata Atlântica (bioma localizado em grande parte do litoral) 4%, enquanto no Pantanal (também na região centro-oeste) a subida foi de 86%.
Já no Pampa (localizado na região sul do Brasil) as emissões por conversão de uso da terra caíram 15%, mas o bioma responde por apenas 1% do setor.
"A queda nas emissões em 2023 certamente é uma boa notícia, e põe o país na direção certa para cumprir sua NDC [sigla em inglês que denomina o compromisso de cada país signatário do Acordo de Paris de reduzir a poluição para que o aquecimento global não ultrapasse 1,5°C neste século], o plano climático nacional, para 2025. Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes do que acontece na Amazónia, já que as políticas para os outros setores são tímidas ou inexistentes", avaliou David Tsai, coordenador do SEEG, do Observatório do Clima.
Na quarta-feira, o Governo brasileiro divulgou o relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazónia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que constatou uma redução de 30,6% no desflorestamento na Amazónia brasileira face ao período anterior.
A taxa oficial de desflorestamento da maior floresta tropical do planeta, medida no país entre agosto de 2023 e julho de 2024 em razão das características do bioma, foi de 6.288 quilómetros quadrados, total que indica a maior queda percentual em 15 anos.
Já no Cerrado, a taxa oficial de desflorestamento para o período foi de 8.174 quilómetros quadrados, que representou uma queda de 25,8% face ao período de agosto de 2022 a julho de 2023 e foi também a primeira redução em cinco anos no bioma.
Mesmo com a desaceleração das emissões na Amazónia, o Observatório do Clima observou que a devastação dos outros biomas brasileiros causou a emissão de 1,04 milhões de toneladas de gás carbónico equivalente bruto em 2023.
O total, de acordo com dados citados pela organização, "torna o Brasil o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Se fosse um país, o desmatamento do Brasil seria o oitavo maior emissor do planeta, atrás do Japão e à frente do Irão".
Além do desflorestamento, outros setores da economia contribuem para o aumento nas emissões. A agropecuária teve o seu quarto recorde consecutivo de emissões, com uma subida de 2,2%, devido principalmente a mais um aumento do gado bovino.
A agropecuária respondeu por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado. Somando as emissões por mudança de uso da terra, a atividade agropecuária segue sendo de longe a maior emissora do país, com 74% do total.
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