Ex-oficial da Guarda Nacional do Exército e veterano das guerras do Iraque e do Afeganistão, Hegseth construiu uma sólida presença como comentador de televisão e defensor das políticas conservadoras de Trump, tornando-se figura familiar com o programa Fox & Friends, na estação televisiva Fox News, próxima dos republicanos.
A sua indicação, no entanto, afastou-se do perfil técnico que caracteriza a liderança do Pentágono, levantando questões sobre a sua preparação para dirigir a maior força militar do mundo.
A escolha gerou reações mistas em Washington: enquanto alguns republicanos consideram a sua experiência de combate um trunfo para o cargo, outros expressaram reservas sobre a falta de experiência de Hegseth em cargos de alta responsabilidade e sobre a sua capacidade de adaptação aos complexos desafios na área da Defesa.
Entretanto, Trump destacou o comprometimento de Hegseth com a sua agenda, enaltecendo-o como uma figura que simboliza patriotismo e firmeza.
A relação de Hegseth com Trump vem de longa data, marcada por uma defesa acérrima das ações e políticas do Presidente eleito, incluindo o apoio à retirada de tropas norte-americanas de cenários de guerra no estrangeiro e a defesa dos veteranos.
Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), Hegseth defendeu publicamente militares acusados de crimes de guerra, o que lhe rendeu reconhecimento entre os setores mais conservadores e desconfiança em esferas mais moderadas do Exército.
Para Trump, essa lealdade é um fator diferenciador, que permitirá a Hegseth implementar mudanças que reforçam o objetivo de fazer do Pentágono um bastião da segurança e eficiência.
Entre as prioridades de Hegseth está a redução de programas que Trump considera "woke" (corrente que levanta questões relativas à justiça social e racial), os quais, alega o futuro secretário de Defesa, enfraquecem a missão militar, ao promover equidade e inclusão.
Em várias ocasiões, Hegseth manifestou-se contra a inserção de mulheres em unidades de combate e defendeu que as Forças Armadas mantenham um perfil estritamente meritocrático, focado na excelência.
No seu livro "The War on Warriors" ("A Guerra contra os Guerreiros"), Hegseth argumenta que as elites norte-americanas traíram os militares ao subestimar o seu valor, posicionando-se contra o que considera uma erosão moral das Forças Armadas.
Hegseth também defende a necessidade de devolver o mérito ao cerne das promoções e treinos militares, um ponto que, argumenta, se traduz em colocar à frente aqueles que comprovadamente demonstram habilidades de liderança e de combatividade.
Contudo, analistas do Pentágono e alguns senadores expressaram preocupações com a falta de experiência de gestão de Hegseth para lidar com o vasto orçamento e as complexas operações do Departamento de Defesa.
Se vier a ser confirmado no Senado, Hegseth ficará o responsável pela coordenação de mais de um milhão de soldados em serviço ativo, além de liderar operações estratégicas em bases e em regiões de conflito pelo mundo.
Apesar das controvérsias, a nomeação de Hegseth simboliza o alinhamento do novo governo Trump com uma política militar que privilegia a força e a dissuasão, em detrimento de iniciativas mais amplas de diplomacia ou de cooperação internacional.
Por outro lado, observadores temem que Hegseth possa enfrentar desafios internos na própria estrutura do Pentágono.
A resistência a mudanças bruscas e a possível oposição de altos oficiais militares, que podem discordar das suas visões conservadoras, são obstáculos que poderão comprometer a implementação das suas políticas.
Além disso, a sua posição crítica em relação a iniciativas de diversidade nas Forças Armadas pode gerar conflitos com setores que, ao longo dos anos, trabalharam para construir uma cultura mais inclusiva no Exército norte-americano.
Para vários analistas, a escolha de Trump reflete uma clara intenção de consolidar o seu legado de uma liderança militar patriótica e sem compromissos com padrões políticos.
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