O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) relatou um "avanço meteórico" dos rebeldes, que lançaram um ataque contra as forças governamentais, atacando cerca de 50 localidades.
Estes são os confrontos mais violentos desde 2020 no noroeste da Síria, onde a província de Alepo, em grande parte controlada pelo regime de Bashar al-Assad, faz fronteira com o último grande bastião rebelde e 'jihadista' de Idlib.
Um responsável do regime sírio indicou que o exército "enviou reforços" para Alepo, mas garantiu que os atacantes "não chegaram aos limites da cidade".
O grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) -- a Organização pela Libertação do Levante, também conhecido como al-Qaeda na Síria - e grupos aliados, alguns próximos da Turquia, começaram a ofensiva na quarta-feira à noite, mas os principais combater aconteceram já hoje, tendo a aproximação a Alepo sido feita esta manhã.
Segundo o OSDH, sediado no Reino Unido mas com uma vasta rede de fontes na Síria, 24 civis foram mortos na sexta-feira, incluindo 19 em ataques de aviões russos, aliados do regime, em zonas rebeldes.
"Eles estão a menos de dois quilómetros da cidade de Alepo", avançou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane, em declarações à agência de notícias francesa AFP.
A cidade, a segunda maior da Síria, foi bombardeada pela primeira vez desde há quatro anos, tendo como alvo o 'campus universitário', onde foram mortos quatro civis, segundo a agência de notícias síria Sana.
"É estranho ver as forças do regime receberem tais golpes apesar da cobertura aérea russa (...) As forças do regime dependiam do [grupo xiita libanês] Hezbollah, que está atualmente ocupado no Líbano", argumentou Rami Abdel Rahmane, referindo-se à recente guerra entre Israel e o movimento libanês, aliado de Damasco.
O Irão é outro forte aliado da Síria, país no qual Teerão se envolveu militarmente, enviando conselheiros, a pedido das autoridades locais, para apoiar o Presidente Assad durante a guerra civil síria.
Graças a esta guerra, iniciada em 2011, o HTS, dominado pelo antigo braço sírio da al-Qaeda, assumiu o controlo de setores inteiros da província de Idleb, mas também de territórios vizinhos nas regiões de Alepo, Hama e Latakia.
Os 'jihadistas' e os seus aliados cortaram na quinta-feira a estrada vital que liga a capital Damasco a Alepo, segundo o OSDH e assumiram o controlo do cruzamento rodoviário entre Alepo e a cidade costeira de Latakia.
A guerra civil síria começou em 2011, na sequência dos protestos da Primavera Árabe que provocaram uma reação violenta do Governo de Bashar al-Assad.
Os protestos na Síria contra Bashar al-Assad - que lidera o país desde 2000, seguindo os passos da sua família, no poder desde 1970 -- espalharam-se pelos países árabes vizinhos e mobilizaram recursos de países como os Estados Unidos e a Rússia.
Se no início, o objetivo da guerra era derrubar o governo e estabelecer um governo democrático, com o tempo o foco mudou radicalmente.
A oposição, representada pelo Exército Livre da Síria (ELS) aderiu a ideais de fundamentalismo religioso e juntou-se a outros grupos extremistas.
Uma das mudanças foi passar a combater, com a ajuda da Turquia, os curdos no norte da Síria, sob a alegação de que queriam fragmentar o território sírio. Além disso, juntou-se o HTS, de orientação sunita, que foi, até 2016, o braço armado da al-Qaeda na Síria e depois o antigo braço iraquiano da al-Qaeda, conhecido como Estado Islâmico (EI), que invadiu o país e conquistou parte do território.
A organização terrorista foi uma ameaça real para o Governo de Bashar al-Assad e para outros grupos na Síria, o que levou a uma grande mobilização interna e internacional contra o avanço dessa organização.
O Norte da Síria beneficiou, nos últimos anos, de uma calma precária, tornada possível por um cessar-fogo estabelecido após uma ofensiva do regime, em março de 2020.
A trégua foi patrocinada por Moscovo e pela Turquia, que apoia alguns grupos rebeldes sírios na sua fronteira.
O regime sírio recuperou o controlo de grande parte do país com o apoio dos seus aliados russos e iranianos.
Desde o início, o conflito fez mais de meio milhão de mortos e milhões de refugiados e deslocados.
[Notícia atualizada às 11h33]
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