Uma investigação levada a cabo pelo governo do Reino Unido concluiu que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderá ter encomendado diretamente a morte de Sergei Skripal, em 2018, por este ter informações sobre o "desvio criminoso" dos lucros da produção de metais por parte de chefe de Estado russo.
Segundo escreve este domingo a publicação The Guardian, as conclusões são tiradas no âmbito de um inquérito sobre os envenenamentos de Skripal e da filha, que não resultaram nas suas mortes, e que foram feitos com recurso ao novichok, uma substância neurotóxica utilizada ainda pela União Soviética.
Segundo a imprensa britânica, as conclusões são de que Putin ordenou diretamente a morte de Skripal, um antigo espião russo, que estava na altura do envenanemento em Salisbury, Inglaterra.
No seu depoimento, Skripal disse que quando trabalhava para os serviços secretos militares russos, conhecidos como GRU, tinha acesso a "informações secretas" e "tinha conhecimento de alegações de que Putin tinha estado envolvido em actividades ilegais relacionadas com a eliminação de metais raros". Segundo disse em 2018, após ser envenenado, Putin terá estado envolvido no "desvio" das receitas das vendas de alumínio.
Quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Commonwealth e do Desenvolvimento foi questionado acerca da possibilidade de este ter sido o motivo, um dos responsáveis, Jonathan Allen, não descartou a hipótese: "Faz sentido que, se ele [Skripal] estivesse a trabalhar como membro sénior do GRU, tivesse acesso a informações secretas. Quanto às alegações relativas ao presidente Putin, é muito difícil saber exatamente o que se passa na Rússia. A sociedade civil é praticamente inexistente, os meios de comunicação social independentes foram encerrados, o sistema judicial funciona para proteger o governo e o presidente".
Allen sublinhou ainda que existem possibilidades que ligam figuras do tipo do governo russo, incluindo o chefe de Estado, "ao controlo dos recursos naturais, das fontes de riqueza russas e a sugestões de que lucraram com elas".
"Putin está no topo de um Estado altamente corrupto e que assegura a lealdade através do clientelismo e do medo. Diria que estes podem ser os motivos", asseverou.
Putin ter-se-á referido a Skripal como "traidor" e sugeriu que ele tenha trabalhado com o governo britânico depois de ir para o país. "Ele saiu e continuou a colaborar e consultou alguns serviços especiais", terá dito o presidente russo. Questionado sobre as alegações, Jonathan Allen não comentou.
Desde outubro que um inquérito está a decorrer no Reino Unido, por forma a investigar a morte de Dawn Sturgess, uma mulher natural de Amesbury, local que fica a 13 quilómetros de Salisbury, onde Skripal e a filha foram envenenados. A mulher morreu três meses depois do envenenamento de Skripal após se perfumar, e a substância continha novichok.
Na segunda-feira, a equipa legal de Sturgess vai argumentar que o governo britânico poderia ter sido feito mais para proteger o povo da ameaça russa.
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