"Houve grandes confrontos nas últimas duas semanas, antes de ser negociado um cessar-fogo", transmitiu o responsável ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a partir da Síria.
O norueguês manifestou séria preocupação com as informações sobre uma escalada militar, que pode ser "catastrófica" numa altura em que o "cessar-fogo de cinco dias já expirou".
No passado dia 11 dezembro, o chefe das forças dominadas pelos curdos, que controlam vastas áreas do nordeste da Síria, anunciou uma trégua com os grupos pró-turcos em Manbij, uma área predominantemente árabe, onde os combates resultaram na morte de 218 pessoas em apenas alguns dias.
Geir Pedersen informou ainda ter-se encontrado com os novos dirigentes sírios, que derrubaram o Presidente Bashar al-Assad a 08 de dezembro na sequência de uma ofensiva relâmpago conduzida por uma coligação opositora, liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) e que inclui fações pró-turcas.
"Vi com os meus próprios olhos os cárceres e as câmaras de execução e tortura da prisão de Saydnaya, uma prova da barbárie do regime deposto contra o seu próprio povo", testemunhou o enviado da ONU, referindo-se à prisão situada 30 quilómetros a norte de Damasco.
Pedersen apelou à comunidade internacional para que preste "um amplo apoio" à Síria e levante gradualmente as sanções para permitir a reconstrução deste país devastado por 13 anos de guerra civil.
Várias missões estrangeiras reuniram-se hoje na capital síria com as novas autoridades, que tentam garantir a todos que conseguirão trazer a paz ao país.
O HTS, antigo ramo sírio da Al-Qaeda, afirma ter rompido com o 'jihadismo', mas continua a ser classificado como organização terrorista por várias capitais ocidentais, incluindo Washington.
O enviado especial da ONU para a Síria também criticou os "mais de 350 ataques" efetuados por Israel contra instalações militares no país desde a queda do regime.
"Estes ataques expõem a população civil a riscos acrescidos e comprometem as perspetivas de uma positiva transição política", acrescentou.
As autoridades israelitas têm justificado os ataques com a necessidade de evitar que caiam nas mãos dos rebeldes armas químicas e as defesas aéreas da Marinha.
Pedersen manifestou também a sua oposição ao plano aprovado pelo governo israelita para duplicar a população na parte síria dos Montes Golã anexada por Israel.
"Israel deve cessar todas as atividades de colonização nos Golã sírios, o que é ilegal", advertiu.
Poucas horas após a queda de Bashar al-Assad, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordenou ao exército que tomasse a zona-tampão controlada pela ONU e que separa os dois países nos Montes Golã.
"Os ataques à soberania e à integridade territorial da Síria têm de parar", defendeu Pedersen.
Depois de 24 anos no poder, Bashar al-Assad fugiu com a família para a Rússia após os rebeldes terem tomado o controlo de Damasco, ditando, assim, o fim de cinco décadas de poder da família do ex-presidente.
A queda do regime está a suscitar várias interrogações sobre o futuro deste país devastado e fraturado por mais de uma década de guerra civil, um conflito que ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos 'jihadistas'.
O novo poder instalado em Damasco nomeou o político Mohammed al-Bashir como primeiro-ministro interino do governo sírio de transição, cargo que assumirá até março de 2025.
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