Já em plena contagem decrescente para as eleições legislativas antecipadas, que irão ocorrer em pouco mais de dois meses após uma moção de confiança ao chanceler Olaf Scholz ter sido chumbada no parlamento alemão, os principais partidos alemães apresentaram hoje formalmente os seus programas eleitorais que já eram, no entanto, conhecidos há alguns dias.
Em 64 páginas, o chanceler cessante e recandidato Olaf Scholz quer dar a conhecer "o que importa agora", numa tentativa de descolar do terceiro lugar apontado pelas sondagens, e mostrar ao eleitorado alemão que o Partido Social-Democrata (SPD) foi bem-sucedido nos últimos três anos, focado argumentos na gestão da crise energética e no aumento do salário mínimo.
Para a União Democrata Cristã (CDU) e ao partido irmão na Baviera, a CSU, o segredo está na "mudança política para a Alemanha".
Na primeira aparição conjunta nesta campanha eleitoral, Friedrich Merz, candidato a chanceler e líder da CDU, e Markus Söder, líder da CSU, sublinharam querer liderar um governo que "funcione de forma fiável", que ponha um ponto final ao trabalho dos últimos três anos.
A separar CDU e SPD estão cerca de 15 pontos percentuais nas sondagens, com Merz em vantagem, e diferentes ideias nos assuntos que atualmente mais interessam os alemães, economia e migrações.
Scholz é ainda o líder mais impopular da Alemanha nos tempos modernos.
O SPD defende uma subida do salário mínimo para 15 euros por hora, benefícios fiscais para os trabalhadores com rendimentos baixos e médios, IVA mais baixo na indústria da restauração e habitação a preços acessíveis.
Para os social-democratas, devem ser feitos investimentos na economia e na inovação e para tal propõe a criação de um fundo extraorçamental de 100 mil milhões de euros para incentivar o investimento privado e modernizar as infraestruturas.
O partido pretende também introduzir um prémio "Made in Germany" ("Fabricado na Alemanha") para estimular o investimento que inclui um reembolso de 10% dos impostos diretos sobre o dinheiro usado para equipamento nas empresas.
É também a favor de almoços gratuitos nos estabelecimentos de ensino, de licenças parentais mais longas e de um "seguro de solidariedade para os cidadãos".
Para a CDU/CSU é preciso "aderir ao travão constitucional da dívida", lê-se no programa eleitoral de forma sucinta. A ferramenta foi introduzida após a crise financeira de 2009, mas os críticos afirmam que impede o crescimento ao restringir os empréstimos e investimento. Este travão, consagrado na lei alemã, limita o endividamento a um máximo de 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, a carga fiscal sobre as empresas deverá ser reduzida para um máximo de 25% e a sobretaxa de solidariedade completamente abolida.
Os conservadores prometem não mexer nas pensões de velhice e encorajar aqueles que querem continuar a trabalhar para além da idade da reforma de 67 anos, permitindo-lhes ganhar até dois mil euros por mês livres de impostos para além da reforma.
A dupla CDU/CSU pretende reduzir a taxa de IVA dos alimentos no setor da restauração de 19% para 7% e melhorar os subsídios à habitação para as famílias jovens. Baixar os preços da eletricidade também faz parte de uma das medidas dos conservadores para estimular a economia.
Os alemães vão às urnas depois da coligação tripartida do chanceler Olaf Scholz se ter desmoronado, a 06 de novembro, com a demissão do líder dos liberais e antigo ministro das Finanças, Christian Lindner. Foram precisamente disputas sobre o orçamento a gota de água, numa coabitação governamental que enfrentou vários problemas durante os últimos três anos.
As eleições ocorrem num momento difícil para a Alemanha com a economia a registar, segundo as previsões, uma contração pelo segundo ano consecutivo. Empresas como a Volkswagen ou a Bosch anunciaram pesados despedimentos.
"O chanceler pediu um voto de confiança e perdeu. Há muito que perdeu a confiança da maioria da população. Perdeu também a confiança dos investidores que estão a abandonar a Alemanha há vários anos", sublinhou Friedrich Merz, durante a apresentação do programa eleitoral dos conservadores.
O tema das migrações também não passa ao lado dos dois partidos.
O SPD não pretende endurecer a política de asilo e migração, querendo gerir o tema com "responsabilidade humanitária". O partido quer acelerar "significativamente" os procedimentos de asilo, através de uma modernização administrativa, com as decisões a serem tomadas num prazo de seis meses.
As fronteiras externas da União Europeia (UE) devem ser mais bem protegidas e controladas, no entanto, "o Estado de direito e condições humanas" devem ser garantidos em todos os momentos, sublinham os social-democratas no seu programa.
Se a CDU/CSU for eleita, pretende reforçar significativamente a política de asilo e implementar um congelamento de novas entradas vindas de outro Estado membro da UE ou do espaço europeu de livre circulação Schengen.
Para justificar o endurecimento na política de migração, o partido sublinha que a Alemanha precisa sobretudo de mão-de-obra qualificada, enquanto a migração ilegal está a sobrecarregar o país e a sua capacidade de integração.
Sob o título "Travar a imigração clandestina", a CDU/CSU apresenta os seus planos em oito pontos que incluem a designação de mais "países de origem seguros" que possam facilitar os regressos, e a deportação regular de criminosos e indivíduos considerados perigosos.
Os programas eleitorais deverão ser agora votados pelos partidos nos respetivos congressos a realizar no início de 2025.
Após o chumbo da moção de confiança e a consequente dissolução do parlamento (Bundestag), cabe ao Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, convocar formalmente eleições que deverão acontecer num prazo de 60 dias.
Os alemães deverão ir novamente às urnas a 23 de fevereiro, mais de meio ano antes do previsto, uma data com a qual a maioria dos partidos já concordou.
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