Após ter passado em Kyiv o primeiro dia do seu mandato, a 01 de dezembro, para garantir apoio da União Europeia (UE) à Ucrânia face à invasão russa, e de nessa altura ter convidado Volodymyr Zelensky para se deslocar a Bruxelas, António Costa preside na quinta-feira ao seu primeiro Conselho Europeu.
Nesta reunião de alto nível dos líderes europeus, um dia após a sua primeira cimeira europeia, entre a UE e os Balcãs Ocidentais, o responsável pretende "enviar uma mensagem unida e inequívoca de apoio à Ucrânia, em prol de uma paz abrangente, justa e duradoura", segundo a carta-convite enviada aos chefes de Governo e de Estado da União.
Numa altura de impasse na guerra da Ucrânia e antes de o novo Presidente norte-americano, Donald Trump, tomar posse, António Costa, quer a UE a "fazer tudo o que for preciso para que a invasão russa seja derrotada e o direito internacional prevaleça", razão pela qual convidou Volodymyr Zelensky, de quem espera ouvir "as suas opiniões sobre a melhor forma de a Europa apoiar a Ucrânia", ainda de acordo com a missiva.
Quando a UE e os seus Estados-membros já avançaram com cerca de 125 mil milhões de euros de apoio à Ucrânia, para se manter e se defender da Rússia, altos funcionários europeus explicaram, na antevisão deste Conselho Europeu, que Kyiv deve ficar na "posição mais forte possível" face a Moscovo para, assim, conseguir negociar e "decidir sobre o seu próprio futuro".
Para 2025, está previsto um apoio financeiro de mais de 30 mil milhões de euros (12,5 mil milhões de euros do Mecanismo de Apoio à Ucrânia e 18,1 mil milhões de euros dos empréstimos extraordinários), além do apoio de cerca de 30 mil milhões de euros já concedido até à data, com fontes europeias ouvidas pela Lusa a esperarem que o próximo ano "esteja salvaguardado".
Apesar de não se esperarem novos anúncios para a Ucrânia, este primeiro Conselho Europeu de António Costa traz como novidade o método de trabalho dos líderes da UE, que após receberem Volodymyr Zelensky se vão concentrar em temas como as migrações, o papel da UE no mundo e noutras tensões geopolíticas, como no Médio Oriente.
Defendendo reuniões mais eficazes, o antigo primeiro-ministro português vai introduzir o formato de apenas um dia de cimeira europeia, evitando também conclusões escritas sobre temas ainda muito divisivos entre os chefes de Governo e de Estado da UE, como a relação com os Estados Unidos e o papel do bloco comunitário face ao contexto geopolítico mundial.
"É inteligente não haver conclusões sobre estes aspetos. Embora a certo momento isso vá ter de acontecer, para já é importante que a discussão seja apenas estratégica, pois isso permite que os líderes da UE digam o que pensam sem estarem preocupados com o texto", comentou um alto funcionário europeu ouvido pela Lusa.
O mesmo alto funcionário, conhecedor das preparações, destacou também "o facto de a cimeira ter apenas um dia e de ter uma agenda conhecida previamente, o que permite preparar os trabalhos.".
"A preparação tem sido bastante limpa e organizada, diria que muito positiva", adiantou.
No que toca ao papel da UE no mundo, António Costa disse na sua carta-convite ser "necessário um debate abrangente e estratégico, sem conclusões escritas, sobre o caminho a seguir no que respeita ao empenho e prioridades globais num cenário multipolar marcado por tensões geopolíticas".
Já sobre os Estados Unidos, e a poucos dias de Donald Trump tomar posse, o presidente do Conselho Europeu adiantou na missiva que a UE deve agora "determinar como reforçar os laços transatlânticos e defender simultaneamente os seus próprios interesses".
No passado dia 01 de dezembro, António Costa começou o seu mandato de dois anos e meio à frente do Conselho Europeu, sendo o primeiro socialista e português neste cargo.
O Conselho Europeu arranca quinta-feira pelas 10:30 (hora local, menos uma em Lisboa), com a habitual presença da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e de Zelensky.
Entre os temas em cima da mesa está a Ucrânia, o papel da UE no mundo, a aposta em preparação militar, as migrações, a situação no Médio Oriente e as tensões na Geórgia e na Moldova.
Será, ainda, discutida a proposta de António Costa para que a sua liderança e a instituição que junta os líderes europeus sejam escrutinadas pelo novo Órgão Interinstitucional de Ética da UE.
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