"No contexto das tentativas de Berna de promover uma ideia de solução para o conflito assente na 'fórmula Zelensky', a parte russa sublinhou a total falta de sentido de qualquer tentativa de apresentar a Moscovo qualquer tipo de ultimato acordado nas suas costas entre o Ocidente e Kiev", indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, relatando a conversa mantida no dia anterior pelos dois ministros.
Segundo a diplomacia russa, Lavrov e Cassis "trocaram opiniões sobre o conflito na Ucrânia".
Lavrov "explicou em pormenor a posição da Rússia sobre a resolução deste conflito e reiterou as condições apresentadas a 14 de junho pelo Presidente russo, Vladimir Putin", em que este exigiu um estatuto de neutralidade para a Ucrânia, a entrega das regiões ucranianas anexadas pela Rússia e a "desnazificação" da nação vizinha, entre outros pontos.
"Foi salientada a inadmissibilidade do alargamento da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) a leste, que se tornou uma das premissas da atual situação que transformaram a operação militar especial numa opção sem alternativas", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, segundo o qual a Rússia "fará tudo o que for necessário para garantir a sua segurança".
A Suíça acolheu em junho passado uma Cimeira para a Paz na Ucrânia na localidade de Bürgenstock, à qual não assistiu qualquer delegação da parte russa, que rejeitou categoricamente o plano de paz proposto pelo líder ucraniano.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
No terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
As tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguem o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk, e da recente autorização do Presidente norte-americano, Joe Biden, à Ucrânia para utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar a Rússia.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.
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