Adnan Kassar, é uma das inúmeras vítimas deixadas pela família Assad, que dominou a Síria durante anos e cujo regime caiu este mês - com a fuga do presidente, Bashar al-Assad, para a Rússia.
Pela primeira vez desde a queda do regime, Kassar falou com a Sky News sobre o que levou à sua detenção que, ordenada pelo pai de Bashar al-Assad, durou até 2014.
Tudo aconteceu em 1993, quando Kassar, se destacou numa competição equestre, assegurando a vitória para a sua equipa. A vitória foi amplamente comemorada, com exceção de um dos seus colegas e, até aí, alguém a quem chamava amigo próximo, Bassel al-Assad - irmão de Bashar al-Assad, que iria suceder ao seu pai, Hafez al-Assad, na presidência da Síria, caso não tivesse morrido em 1994 num acidente de automóvel em que seguia a alta velocidade.
"A multidão levantou-me em ombros. Foi um momento de pura alegria, mas para Bassel não foi a mesma coisa. Esse dia marcou o início do meu pesadelo", explicou á Sky News, falando da vitória. Pouco tempos depois, Kassar foi detido devido a acusações vagas que, segundo o que conta, foram fabricadas em resultado do ressentimento de Bassel.
La historia de Adnan Kassar, el caballero sirio que derrotó a Basil al-Assad en una competición deportiva y acabó encarcelado durante 21 años...
— 𝐕𝐈𝐕𝐀 𝐄𝐋 𝐌𝐔𝐍𝐃𝐎 𝐋𝐈𝐁𝐑𝐄 (@vivalibre04) December 13, 2024
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Segundo o que recorda à imprensa britânica, aconteceram interrogatórios violentos, no qual foi vítima de abuso psicológico e físico: "Fui mantido [num local] abaixo do chão durante seis meses, espancado constantemente e interrogado sem fim", afirmou.
Depois, foi transferido para a prisão Sednaya, conhecido como 'o matadouro de Assad', local onde a "tortura ainda ficou pior".
Adnan Kassar, a Syrian horse riding champion and leader of the Syrian equestrian team, who came from an aristocratic family in Damascus, was imprisoned for 21 years simply for beating the president’s son in an equestrian competition. Even after the president’s son died less than… pic.twitter.com/PD9sPxaFTL
— علي القيسي Ali Alqaisi 68 (@alialqaisa68) December 9, 2024
Kassar recorda que quando Bassel morreu começaram a tratá-lo de forma ainda mais desumana, culpando-o mesmo pela morte do filho do então presidente. "Todos os anos a tortura intensificava-se no dia em que se assinalava a morte [de Bassel]", referiu.
Mais tarde, foi também transferido para a prisão Tadmur, conhecida também pelas suas poucas condições. "Furaram-me a orelha numa manhã e partiram-me o maxilar à noite”, recordou, dizendo que atos tão simples como rezar eram alvo de castigos extremos, como "ser chicoteado mil vezes. Os meus pés ficaram rasgados e os meus ossos expostos".
Kassar ficou detido durante 22 anos, e só depois de muita pressão por parte de grupos internacionais é que foi libertado, a 16 de junho de 2014.
Foi só agora, com a queda do regime, que Kassar decidiu falar sobre os seus anos na prisão, já que teve receio de que qualquer coisa que pudesse dizer o levasse de novo para a prisão. "Depois de anos, tortura e injustiça, a revolução acabou por derrubar este regime ditatorial", apontou.
Bashar al-Assad, que esteve no poder 24 anos, fugiu com a família para a Rússia, após a sua destituição pela HTS, herdeira da antiga afiliada síria da Al-Qaida e classificada como grupo terrorista por países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e ainda a União Europeia.
O novo poder instalado em Damasco nomeou o político Mohammed al-Bashir como primeiro-ministro interino do governo sírio de transição, cargo que assumirá até março de 2025.
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