Ao fim de um impasse de cerca de seis horas, as autoridades da Coreia do Sul cancelaram uma operação para deter e interrogar o presidente deposto Yoon Suk-yeol, por volta das 13h30 locais (4h30 em Lisboa), depois de terem visto o seu acesso à residência do chefe de Estado bloqueado pela segurança presidencial. Ainda assim, o Gabinete de Investigação da Corrupção (CIO, na sigla em inglês) tem até 6 de janeiro para executar o mandado de detenção, num caso sem precedentes contra um presidente sul-coreano.
"Quanto à execução do mandado de detenção hoje, face ao persistente impasse, determinámos que era virtualmente impossível executar o mandado e estávamos preocupados com a segurança das pessoas no terreno devido à obstrução à sua execução", disse o porta-voz do CIO, citado pela agência de notícias Yonhap.
O responsável explicou que vão ser agora ponderadas outras medidas e acrescentou lamentar "profundamente a atitude do suspeito, que não respeitou os procedimentos legais".
Depois de passar por um primeiro controlo militar no perímetro do complexo, pelas 7h00 (22h00 de quinta-feira em Lisboa), a equipa de agentes do CIO e polícias confrontaram-se com o serviço de segurança presidencial, que se recusou a aceitar como válidos os mandados de detenção temporária e de busca, que foram obtidos na terça-feira.
Os cerca de 1.200 apoiantes do presidente deposto, que estavam reunidos perto da residência, situada na área de Hannam, em Seul, festejaram a notícia. No local estava ainda um numeroso contingente policial, incluindo 2.700 agentes, para evitar distúrbios.
Se conseguirem deter Yoon Suk-yeol, a equipa composta por CIO, polícia e Ministério da Defesa Nacional tem 48 horas para interrogar o dirigente e solicitar uma ordem para prolongar a detenção, caso seja considerado necessário.
Já na quarta-feira, o diretor do CIO, Oh Dong-woon, garantiu que o mandado seria executado "dentro do prazo".
"Consideramos que ações como a montagem de barricadas e encerramento dos portões de ferro [da residência de Yoon] para resistir à execução do nosso mandado de detenção constituem uma obstrução às funções oficiais", prosseguiu o responsável, acrescentando que qualquer pessoa que se opusesse à detenção de Yoon poderia "ser processada".
Ainda assim, os advogados de Yoon solicitaram uma ordem judicial para anular a ação, alegando que só o Ministério Público a pode requerer. Insistiram, até, que o procedimento "é ilegal", depois de saberem que as autoridades se encontravam no interior do complexo presidencial.
Yoon, que está proibido de sair do país, foi destituído pelo parlamento sul-coreano a 14 de dezembro, após ter declarado lei marcial. É a primeira vez na história da Coreia do Sul que um presidente em exercício é alvo de uma ação judicial do género. O responsável, que continua a ser oficialmente o presidente, enquanto aguarda a decisão do Tribunal Constitucional sobre a sua destituição, está suspenso do cargo. Espera-se que a justiça confirme ou rejeite a destituição até meados de junho.
O antigo procurador, de 64 anos, não respondeu por três vezes às convocatórias para ser interrogado sobre a tentativa de golpe de Estado, o que levou a justiça sul-coreana a emitir um mandado de detenção.
Recorde-se que o presidente surpreendeu o país ao declarar a lei marcial e enviar o exército para o parlamento, na noite de 3 de dezembro. Contudo, Yoon foi forçado a recuar horas mais tarde, face à pressão dos deputados e de milhares de manifestantes.
Desde a tentativa de impor a lei marcial, Yoon não demonstrou qualquer arrependimento e a sua recusa sistemática em submeter-se às perguntas dos investigadores levantou receios de que uma tentativa de detenção pudesse terminar em violência, agravando a já difícil situação do caso.
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