"Isto aponta para a necessidade de um esforço institucional mais estruturado para incluir a temática na educação formal e em campanhas públicas", conclui o trabalho sobre a perceção da população cabo-verdiana sobre si própria, conduzido pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), com apoio da cooperação espanhola.
Todavia, a coordenadora da Cooperação Espanhola em Cabo Verde, Patrícia Ramos, afirmou que o arquipélago tornou-se um "exemplo para África" na promoção dos direitos LGTBIQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, queer, intersexuais, assexuais e outros) e considerou o país como um "farol de esperança e progresso no continente africano" - face a países em que a homossexualidade chega a ser punida com penas severas, incluindo a morte.
Segundo o estudo, nos concelhos urbanos, como a Praia e São Vicente, há maior conhecimento e aceitação, refletindo o impacto do ambiente cultural e do acesso à informação sobre identidade de género ou orientação sexual.
Apenas 14,5% dos inquiridos indicam haver relações familiares próximas, apontando a dificuldade do reconhecimento no seio familiar: o ambiente é identificado como um espaço de tensão, com barreiras entre gerações e níveis educacionais.
Cerca de um quarto dos inquiridos disseram evitar discutir o tema em ambientes familiares ou sociais.
O sexo masculino apresenta maior indiferença em relação ao tema.
Embora 73,9% apoiem a igualdade de direitos, há uma dissonância entre essa aceitação e os direitos concretos com que concordam, como casamento (51,2%) e adoção (51,9%).
O estudo também identificou práticas discriminatórias normalizadas, especialmente em escolas, locais de trabalho e serviços de saúde, considerados os espaços de discriminação mais frequentes por 31% dos participantes.
O trabalho recomenda uma atualização do código penal para criminalizar explicitamente a homofobia e transfobia e reforçar as leis contra crimes de ódio baseados em género e orientação sexual.
O ministro da Família e Inclusão Social, Elísio Freire, presente na apresentação do estudo, na Praia, afirmou hoje que a inclusão da comunidade LGBTQI+ é uma questão de justiça e de direitos humanos.
"O resultado do estudo convida-nos à ação: é tempo de renovar o empenho pela educação em direitos humanos, por um diálogo entre diversas partes da sociedade e para o combate ao preconceito em todos os estereótipos existentes", referiu.
O estudo "A perceção social da população sobre as Pessoas LGBTIQ+ em Cabo Verde", apresenta os resultados de um estudo promovido pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), realizado com o apoio financeiro da Cooperação Espanhola através da Associação Triângulo e executado pela empresa Analyses, entre outubro e dezembro de 2024.
O inquérito incluiu 767 entrevistados, residentes em cinco ilhas e seis concelhos nas ilhas de Santiago (Praia e Santa Catarina), Santo Antão (Ribeira Grande), São Vicente, Sal e Fogo (São Filipe).
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