Ossama Anjiem, também conhecido como Ossama al-Masri, foi detido a 19 deste mês, um dia após o Tribunal Penal Internacional (TPI) ter emitido um mandado de captura internacional sob as acusações de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.
O ministro da Justiça italiano, Carlo Nordio, foi terça-feira questionado sobre a libertação de Ossama Anjiem durante uma audiência previamente agendada perante o Senado.
Segundo reporta a agência noticiosa Associated Press (AP), Nordio não respondeu a vários pedidos de pormenores sobre a libertação e nem mesmo a pedidos para que reafirme o compromisso da Itália em defender a justiça internacional.
Al-Masri dirige a secção de Tripoli da Instituição de Reforma e Reabilitação, uma notória rede de centros de detenção gerida pela Força de Defesa Especial apoiada pelo governo.
O mandado do TPI, datado de 18 de janeiro e referenciado nos documentos do tribunal italiano, acusa-o de crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos na prisão de Mitiga, na Líbia, a partir de 2011, puníveis com prisão perpétua.
Al-Masri foi detido no domingo em Turim, onde terá assistido ao jogo de futebol Juventus-Milão na noite anterior.
O tribunal de recurso de Roma ordenou terça-feira a sua libertação e o regresso à Líbia a bordo de um avião dos serviços secretos italianos, devido ao que o tribunal de recurso considerou ser um erro processual na sua detenção.
Segundo o acórdão, Nordio deveria ter sido informado com antecedência da detenção, uma vez que o Ministério da Justiça é responsável por todas as relações com o Tribunal de Haia.
Al-Masri regressou a Tripoli na terça-feira e foi recebido no aeroporto de Mitiga por apoiantes que celebraram a sua libertação, segundo a imprensa local.
Imagens que circularam na Internet mostravam dezenas de jovens a entoar cânticos e a carregar o que parecia ser al-Masri aos ombros no aeroporto.
Os deputados da oposição de vários partidos italianos manifestaram indignação e exigiram esclarecimentos, com o antigo primeiro-ministro Matteo Renzi a acusar o Governo de direita de "hipocrisia", dada a sua declarada repressão dos traficantes de seres humanos.
"Mas quando um traficante que o TPI nos diz ser um criminoso perigoso aterra na vossa mesa, não é como se o perseguissem e levaram-no para a Líbia num avião dos serviços secretos italianos", disse Renzi, do partido Italia Viva.
"Ou se está doente ou esta é a imagem de um governo hipócrita e indecente", acrescentou.
O Partido Democrático exigiu que a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, responda especificamente ao parlamento sobre o caso, argumentando que levantava "questões graves", tendo em conta os abusos conhecidos nas prisões líbias, pelos quais al-Masri é acusado.
A Itália tem laços estreitos com o governo internacionalmente reconhecido de Tripoli e qualquer julgamento de al-Masri emHaia poderia chamar a atenção indesejada para as políticas migratórias italianas e o seu apoio à guarda costeira líbia, que financiou para impedir a saída de migrantes.
Grupos de defesa dos direitos humanos documentaram abusos graves nas instalações de detenção líbias onde os migrantes são mantidos e acusaram Itália de ser cúmplice dos maus tratos infligidos aos migrantes.
"É fundamental compreender porque é que al-Masri estava em Itália e porque é que foi libertado com tanta urgência, apesar do mandado de captura internacional", afirmou o deputado democrata Paolo Ciani, para quem a decisão "parece ter sido política".
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