"As contribuições estrangeiras são positivas para um povo desde que não ultrapassem uma proporção (...). A partir do momento em que se tem a sensação de estar submerso, de já não se reconhecer o próprio país, formas de vida ou cultura, começa-se a rejeitar", afirmou Bayrou, em declarações ao canal de televisão francês LCI.
Para o chefe do Governo, este limiar ainda não foi ultrapassado mas "está a aproximar-se" e em algumas cidades e regiões já existe esse sentimento.
Ao dizer que "tudo é uma questão de proporção", o primeiro-ministro "justificou a política que pretendo prosseguir", regozijou-se hoje o ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, membro dos Republicanos (conservadores), cujas posições face à imigração e a direitos sociais têm sido alvo de críticas.
"Que um homem centrista, moderado e equilibrado diga, depois de um mês e meio no Governo, que há uma proporção de estrangeiros que não deve ser ultrapassada em solo nacional, é um progresso", acrescentou, por sua vez, o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, do partido de centro-direita Renascimento, a força política do Presidente Emmanuel Macron.
O vice-presidente da União Nacional, de extrema-direita, Sébastien Chenu, congratulou-se com as declarações do primeiro-ministro, considerando que o partido "venceu a batalha ideológica".
A líder histórica da União Nacional Marine Le Pen acrescentou esperar agora que François Bayrou tome "ações que acompanhem as constatações".
Mas as declarações do primeiro-ministro chocaram alguns elementos da ala centrista da política francesa.
"Nunca teria dito estas coisas, incomoda-me. Estamos a falar de homens e mulheres, do nosso país, a França, que, através da sua história, da sua geografia, da sua cultura, sempre acolheu e foi construído com esta tradição" de receber migrantes, a presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Yaël Braun-Pivet, centrista e uma aliada fiel de Macron.
Já à esquerda, o choque pelas palavras do primeiro-ministro foi total.
"Não pedimos emprestadas as palavras ou as fantasias da extrema-direita", reagiu o líder dos deputados socialistas Boris Vallaud, que considerou as declarações como "indignas".
Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos (INSEE), em 2023, a população estrangeira residente em França ascendeu a 5,6 milhões de pessoas, ou seja, 8,2% da população total, contra 6,5% em 1975, um "pequeno aumento".
Nomeado primeiro-ministro a 13 de dezembro, Bayrou tem enfrentado um parlamento dividido em três blocos, sem maioria absoluta: uma aliança de esquerda, os 'macronistas' e centristas, e a extrema-direita.
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