A primeira audição está agendada para hoje na Comissão de Finanças do Senado (câmara alta do Congresso norte-americano), seguindo-se na quinta-feira uma audição na Comissão de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões.
Uma sondagem hoje divulgada pela agência noticiosa Associated Press (AP) - NORC revela que apenas três em cada 10 norte-americanos confiam na nomeação de Robert Kennedy Jr. para secretário do Departamento de Saúde dos Estados Unidos da América (EUA), que tem defendido algumas ideias polémicas sobre vacinas ou sobre o aborto.
Mas a mesma sondagem mostra que nem todos os seus controversos objetivos de saúde são impopulares e que algumas das suas causas têm um amplo apoio entre eleitores democratas e republicanos.
Embora muitos norte-americanos discordem de algumas das posições controversas de Kennedy sobre a saúde --- incluindo as suas ideias em torno da reavaliação das recomendações de vacinas infantis e as alterações nas diretrizes sobre o flúor na água potável ou no consumo de leite não pasteurizado - algumas das suas outras posições, como a reformulação de alimentos processados, são amplamente populares.
Robert Kennedy Jr. é um reconhecido cético sobre a utilidade das vacinas e, juntamente com o atual Presidente norte-americano Donald Trump, alegou, sem fundamentos científicos, que as vacinas infantis são perigosas e estão ligadas ao aumento das taxas de autismo.
O candidato a secretário da Saúde chegou a dizer que "não existe nenhuma vacina que seja segura e eficaz".
A sondagem da AP-NORC sugere que reavaliar as recomendações de vacinação seria, neste momento, impopular entre muitos norte-americanos.
Cerca de quatro em cada 10 inquiridos opõem-se "fortemente" ou "um pouco" à reconsideração das recomendações do Governo sobre vacinas amplamente utilizadas, como a vacina contra a gripe, e cerca de três em cada 10 são a favor.
Mas uma das ideias de Robert Kennedy Jr. é genericamente popular: eliminar alguns produtos químicos dos alimentos processados.
O ex-candidato presidencial prometeu proibir certos aditivos alimentares e reprimir os alimentos ultraprocessados que estão associados a taxas de obesidade e diabetes.
Cerca de dois terços dos norte-americanos são "um pouco" ou "fortemente" a favor de restringir ou reformular os alimentos processados para remover ingredientes como o açúcar adicionado ou os corantes, de acordo com o mesmo estudo.
Esta é uma área em que democratas e republicanos concordam: cerca de sete em cada 10 em cada grupo são a favor das restrições.
Numa outra ideia polémica, Robert Kennedy Jr. anunciou que estaria interessado em acabar com a "supressão agressiva" do leite não pasteurizado pela agência de alimentação e medicamentos (FDA).
Esta agência federal e os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças classificaram o leite não pasteurizado como um dos alimentos "mais arriscados" que as pessoas podem consumir devido à possibilidade de contaminação.
O potencial secretário da Saúde norte-americano terá de se esforçar muito para convencer o público sobre esta matéria.
Cerca de quatro em cada 10 adultos nos EUA opõem-se "fortemente" ou "um pouco" à remoção das restrições à venda de leite não pasteurizado.
Apenas cerca de dois em cada 10 norte-americanos são a favor desta ideia, sendo que os republicanos têm mais probabilidades de a apoiar do que os democratas.
Robert Kennedy Jr. também criticou os medicamentos prescritos para a perda de peso, como o Ozempic, argumentando que alimentos de melhor qualidade poderiam resolver o problema da obesidade nos EUA, mas em dezembro mudou de ideias, alegando entretanto que os medicamentos podem servir para garantir que as pessoas não sejam obesas.
Segundo a sondagem, os norte-americanos olham para os medicamentos para a perda de peso como uma boa solução para os adultos obesos.
Robert Kennedy Jr. também defende que os governos locais não coloquem flúor na água potável, mesmo depois de as agências de saúde terem reconhecido que pequenas quantidades deste produto previnem a cárie e a deterioração dentária.
A sondagem revela que há mais norte-americanos a oporem-se à remoção do flúor da água potável, mas muitos não têm uma opinião sobre o assunto.
Já sobre o aborto, as declarações de Robert Kennedy Jr. sobre esta matéria podem afastar a ala mais conservadora do Partido Republicano.
Ao longo da sua carreira, Kennedy Jr. demonstrou mudanças de posição sobre este assunto. Durante o seu percurso como candidato independente, declarou que se opunha à proibição do aborto antes da viabilidade fetal, que geralmente ocorre entre as 24 e as 28 semanas de gestação.
No entanto, numa fase anterior, manifestou apoio à proibição do aborto após o primeiro trimestre de gravidez, embora mais tarde tenha retificado estas declarações.
Na véspera da primeira audição no Senado, a filha do ex-presidente norte-americano John F. Kennedy, Caroline Kennedy, pediu aos senadores, numa carta, para que recusem a confirmação do seu primo, Robert F. Kennedy Jr., para o cargo de secretário da Saúde, que considerou inapto.
Outro assunto em destaque nas audições poderá ser o anúncio da saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das primeiras medidas divulgadas após Donald Trump ter sido empossado para um segundo mandato na Casa Branca.
O republicano, que entretanto admitiu recuar, justificou na ocasião a sua decisão criticando o facto de os EUA contribuírem com muito mais recursos do que a China para este organismo da ONU.
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