"Estamos à espera que seja feita justiça e que esta seja proporcional aos factos", disse a mãe da vítima, que tinha ido viver com a filha e a sua neta de quatro anos durante seis meses para a proteger e apoiar após a separação do arguido, Mickaël Falou, com quem Sandra Pla manteve um relacionamento durante uma década.
Em frente ao Tribunal de Gironde, em Bordéus, cerca de trinta pessoas representando várias associações feministas uniram-se antes do início do julgamento para apoiar a família de Sandra Pla, morta aos 31 anos, apelando ao fim da violência sexista e sexual e do feminicídio, num caso em que a vítima denunciou por várias vezes o agressor à justiça.
"Estamos aqui para apoiar a família de Sandra Pla, para dizer 'nunca mais'", afirmou Annie Carraretto, copresidente da organização Planeamento Familiar de Gironde, no exterior do tribunal, acrescentando que "Sandra nunca deveria ter morrido, não foi protegida".
Para a ativista, existiram "demasiadas disfunções neste caso" e, após três anos e meio, continuam a não existir recursos no país, já que desde o início deste ano se registaram nove feminicídios, segundo a Inter Orga Féminicides (OIF), organização responsável pela contagem oficial e análise dos feminicídios em França.
A vítima, que temia pela própria vida, apresentou várias queixas à polícia e dirigiu ainda uma petição ao Presidente francês, Emmanuel Macron, e à Procuradoria, avisando que iria acabar "como aquelas mulheres que são mortas pelos maridos", segundo a advogada da sua família, Elsa Crozatier, que intentou uma ação de indemnização contra o Estado francês por negligência.
Quatro dias antes do crime, Mickaël Falou estava sob custódia policial por ter enviado 217 mensagens de texto e feito 67 chamadas telefónicas para a sua ex-mulher entre 3 e 18 de junho de 2021, pelo qual foi condenado em 18 de janeiro de 2022 a seis meses de prisão pelo tribunal de Bordéus.
"A verdadeira questão é: porque é que não agimos? Porque é que toleramos que as mulheres sejam espancadas, assediadas e mortas nas suas próprias casas, em França, no século XXI?", disse à Agência France-Presse Naïma Charaï, diretora da Federação Nacional Solidariedade Mulheres, uma associação francesa que gere centros de acolhimento para vítimas de violência doméstica.
No dia 2 de julho de 2021, às 04:23, a câmara que Sandra Pla instalou no pátio da sua loja, no bairro de Saint-Augustin, em Bordéus, filmou um homem a saltar o portão e a esconder-se numa cave por quatro horas.
O homem esperou que a ex-mulher levasse a filha de ambos à escola com outro homem, por volta das 8h13, e meia-hora depois atacou Sandra Pla quando esta regressou sozinha a casa.
O veredicto deste julgamento deverá ser proferido sexta-feira, dia 31 de janeiro, com Mickaël Falou a poder enfrentar prisão perpétua, ao admitir ter matado a sua ex-mulher, negando qualquer premeditação.
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