Uma sondagem da empresa YouGov publicada hoje revela que 55% das pessoas inquiridas apoiariam uma "readesão", contra 43% que continuam determinados em permanecer fora da UE e 12% que se manifestaram indecisos sobre o assunto.
Uma maioria ainda maior (64%) é favorável a uma relação mais próxima do país com os 27 do bloco europeu, com a reintegração no mercado único europeu (50%) e na união aduaneira (48%) a reunirem também um apoio expressivo.
No geral, apenas 30% dos 2.225 inquiridos responderam que o país fez bem ao votar no 'Brexit', o valor mais baixo de sempre no barómetro da YouGov, contra 55% que consideram a saída da UE um erro.
Quaisquer que sejam os valores, eles contrastam com o resultado do referendo de 2016, quando 52% dos britânicos votaram a favor da saída da UE, o que se concretizou em 31 de janeiro de 2020, após anos de negociações.
Os resultados desta sondagem estão alinhados com os de outras pesquisas de opinião realizadas nos últimos meses, que apontam para uma média de 56% de apoio à reintegração, de acordo com o site "What UK Thinks: EU".
Mas John Curtice, um dos politólogos e analistas de comportamento eleitoral, político e social mais respeitados no Reino Unido, desconfia da ideia de arrependimento geral entre os britânicos, fenómeno batizado de 'Brexit Regret' ou, mais abreviado, 'Bregret'.
A opinião pública mudou, salientou o perito, "não porque um grande número de pessoas que votaram para sair tenha mudado de ideias, mas mais porque muitas pessoas que não votaram [no referendo] em 2016, incluindo aquelas que eram demasiado jovens para votar", são mais pró-europeias.
"Não se trata de uma maioria tão grande que se possa necessariamente assumir que se sabe o que vai acontecer", avisou o professor da universidade escocesa de Strathclyde, num encontro com jornalistas em Londres na terça-feira.
A probabilidade de um terceiro referendo sobre a relação do Reino Unido com a UE - o primeiro, em 1975, determinou a permanência do país nas Comunidades Europeias - é, atualmente, reduzida.
Atualmente, nenhum partido político britânico defende uma nova consulta popular, com receio de reabrir um debate que dividiu o país e famílias durante anos.
Nas eleições legislativas de julho passado, apenas os Verdes fizeram campanha por uma reintegração na UE, mas só elegeram quatro deputados num total de 650, pelo que o poder de influência é reduzido.
Para o assunto voltar ao topo da agenda, será necessário que um dos principais partidos políticos assuma este tema como uma prioridade, mas o Partido Trabalhista, no poder, descartou a reversão do 'Brexit'.
Um eventual regresso pode demorar décadas, admitiu o professor de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade Aberta britânica, Simon Usherwood, em declarações à agência Lusa.
"Ironicamente, penso que talvez seja necessário esperar uma mudança geracional no Partido Conservador", revelou.
Recordando que foi durante governos conservadores que o país entrou e saiu da UE, Usherwood acredita que os 'tories' (conservadores) terão de evoluir da atual liderança eurocética para uma atitude mais pró-europeia para, frisou, "podermos efetivamente dar passos substanciais em frente".
Às 23:00 (a mesma hora em Portugal) do dia 31 de janeiro de 2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-membro da UE. Nesse momento, entrou em vigor o chamado "Acordo de Saída", garantindo uma saída ordenada do país da UE, e iniciou-se um período transitório, que terminou no dia 31 de dezembro de 2020.
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