Merz quer maior protagonismo na UE mas enfrenta desafios

O provável futuro chanceler alemão, o conservador Friedrich Merz (CDU), parece apostado em devolver à Alemanha um papel de maior protagonismo na União Europeia, mas enfrenta vários desafios, de acordo com vários especialistas em assuntos europeus.

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© Uwe Anspach/picture alliance via Getty Images

Lusa
07/02/2025 08:45 ‧ há 2 horas por Lusa

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Alemanha/Eleições

A pouco mais de duas semanas das eleições legislativas antecipadas na Alemanha, que se celebram a 23 de fevereiro, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta por SPD (socialistas), liberais do FDP e Verdes, todas as sondagens apontam para uma vitória da União Democrata Cristã (CDU), cujo líder, Merz, já assumiu o objetivo de tornar a Alemanha mais assertiva na cena internacional, mas analistas ouvidos pela Lusa mostram algum ceticismo.

 

De acordo com Rafael Loss, analista de política do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR, na sigla original), um 'think tank' (grupo de reflexão) pan-europeu focado em política externa e de segurança europeia, os muitos problemas e quezílias internas que se verificaram com a chamada 'coligação semáforo' liderada por Scholz, "que mudava de posição à última da hora ou não conseguia chegar a acordo internamente e, por isso, tinha de se abster em Bruxelas, teve um impacto real na posição da Alemanha na UE nos últimos três anos".

"Não estou a ver a Alemanha a recuperar o manto da liderança na UE em breve, mas as eleições permitem a Berlim redefinir algumas das suas relações mais difíceis, incluindo, sobretudo, as relações com Paris e Varsóvia", diz, acrescentando que, se efetivamente a Alemanha conseguir restabelecer as suas relações com a França e a Polónia, "os países do 'triângulo de Weimar' poderão tornar-se a fonte de algumas iniciativas poderosas que poderão fazer avançar a UE".

Para a analista Almut Möller, diretora para os Assuntos Europeus e Globais do centro de estudos European Policy Centre (EPC), Merz "já assumiu que quer mudar a política e dar mais presença à Alemanha", tendo para tal encetado já contactos com outros líderes e efetuado uma deslocação à Polónia, e, de facto, o reforço do chamado 'triângulo de Weimar' - a aliança regional entre Alemanha, França e Polónia criada em 1991 -, seria "uma possibilidade" de fazer a Europa avançar, sobretudo em matéria de política de segurança, algo que seria "muito importante", mas não se afigura fácil.

"Em termos de segurança europeia em particular, que penso ser o grande desafio nos próximos meses, temos assistido a muitas divergências entre Berlim e Paris, que não parecem ser fáceis de ultrapassar. Mas sinto que Merz entende a importância e tem o instinto político para tentar reparar isso, porque ele fundamentalmente acredita que o ataque da Rússia à Ucrânia é também um ataque à Europa, algo que não é partilhado por todos, sobretudo geograficamente. Penso que o seu instinto será construir uma coligação, e Weimar poderia ser um veículo", opina.

Apontando que "não será fácil para Merz navegar numa UE tão fragmentada" e considerando que o futuro chanceler da Alemanha terá de ser "criativo" e saber "construir pontes", formando alianças de Estados-membros para seguir em frente em matérias, como a segurança, em que será muito difícil obter unanimidade, Möller aconselha o líder da CDU a acompanhar a "mudança de gravidade política na Europa, para o norte" e a ser "pioneiro" e a encetar novas alianças além das tradicionais.

"Se eu tivesse de aconselhar o futuro chanceler, encorajá-lo-ia fortemente a olhar além do eixo franco-alemão ou do 'Triângulo do Weimar' e olhar para o norte da Europa, incluindo o Reino Unido e outros países não pertencentes à UE", como a Noruega, diz, lembrando a "ameaça muito real" que a Rússia representa por exemplo no Báltico.

Por seu lado, Jamie Shea, ex-secretário-geral Adjunto para os Desafios de Segurança Emergentes na sede da NATO em Bruxelas e atual investigador sénior no 'think tank' Friends of Europe, questionado pela Lusa sobre se Merz será capaz de devolver à Alemanha o protagonismo internacional que tinha sob a liderança de Angela Merkel (2005-2021), começa por questionar essa perceção e mostra reservas quanto à energia que o atual líder da CDU colocará na frente externa.

"Eu questionaria se a Alemanha desempenhou um papel de liderança forte na Europa durante os anos de Merkel. Merkel foi boa na gestão de crises e na procura de compromissos no seio da UE, mas o seu mandato não está associado a nenhuma grande iniciativa da UE, como [Helmut] Kohl e a criação do euro", começa por notar.

Observando que, "tradicionalmente, a liderança da UE tem vindo a ser exercida pela França e por [Emmanuel] Macron, especialmente em matéria de segurança e defesa", Jamie Shea realça que "a economia alemã está em má forma e muitos consideram que o modelo económico alemão, dependente do gás russo barato e dos mercados abertos para os automóveis, produtos químicos e maquinaria alemães, está quebrado", pelo que "a conceção de um novo modelo económico e a ajuda às empresas alemãs na transição para a economia digital e de energia verde do futuro ocuparão grande parte do tempo de Merz".

Ainda assim, Almut Möller considera que "a expectativa, claramente, é que a Alemanha esteja mais presente em Bruxelas", mas admite que "não será um trabalho fácil para Merz", que terá de lidar com diferentes posições tanto no seio do seu próprio partido como da provável coligação que terá de formar em matérias fraturantes como o financiamento da Defesa europeia através de mecanismos de empréstimo comuns. "Mas a sua ambição expressa é ser forte na UE, o que seria muito importante para a Europa nesta fase", conclui.

Leia Também: Alemanha. Merz pode fazer regressar a CDU ao poder entre críticas

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