A semana começou com uma reunião de diplomas norte-americanos e russos em Riade, na Arábia Saudita, mas o tema 'Conflito na Ucrânia' parece estar a viajar um pouco por todo o mundo - com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já a trocar 'farpas' com o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Com Keith Kellogg, enviado norte-americano na Ucrânia, esta quarta-feira na Ucrânia, Trump e Zelenksy estão a trocar acusações, que podem vir a piorar as relações diplomáticas.
As trocas de farpas começaram na terça-feira à noite, quando, numa intervenção na Florida, Donald Trump referiu que estava "muito chateado" e que tinha "ouvido dizer que Kyiv se tinha queixado" sobre ter ficado fora da reunião entre Moscovo e Washington.
"Estou muito desapontado. Ouvi dizer que eles estão chateados por não terem um lugar [nas conversações]. Hoje ouvi dizer: 'Oh, bem, não fomos convidados.' Vocês estão lá há três anos. Não deviam ter começado. Podiam ter feito um acordo", afirmou Trump, numa comunicação em que pressionou Zelensky para convocar eleições no país.
"Eles querem um lugar à mesa, mas o povo da Ucrânia não teria uma palavra a dizer? Há muito tempo que não temos eleições. Não se trata de uma questão russa, é algo que vem de mim, de outros países. Temos uma situação em que não houve eleições na Ucrânia, em que temos essencialmente uma lei marcial na Ucrânia, em que o líder da Ucrânia tem – detesto dizê-lo – um índice de aprovação de 4% e em que um país foi reduzido a cinzas", defendeu o presidente dos Estados Unidos.
"You should've never started it", Trump says to Ukraine at Mar-a-Lago just after US-Russia peace talks in Saudi Arabia pic.twitter.com/k6J2giHGv7
— Euromaidan Press (@EuromaidanPress) February 19, 2025
Já esta quarta-feira, a Ucrânia respondeu a Trump, com Zelensky a dizer que a Rússia é liderada por "mentirosos patológicos" e que, por isso, não são de confiança.
"Ainda ontem, após a célebre reunião em Riade, tornou-se claro que os representantes russos estavam mais uma vez a mentir, afirmando que não tinham como alvo o sector energético da Ucrânia", afirmou, referindo-se à explosão que aconteceu na semana passada numa estação de Chernobyl, causada por um drone.
Numa conferência de imprensa em Kyiv, Zelensky disse num segundo momento que Trump está "preso numa bolha de desinformação", causado por Moscovo.
"Com todo o respeito pelo presidente Donald Trump, mas está a viver neste espaço de desinformação", afirmou
O líder ucraniano respondeu também à sugestão de Trump sobre as presidenciais, e, referindo a alegada taxa de aprovação que teria, que rondava os 4%, Zelenksy acusou a Rússia de fornecer esses dados - de forma falsa. Segundo a Sky News, a taxa de aprovação de Zelensky numa ida a votos é de cerca de 50%.
Já hoje também, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, teceu elogios a Trump, dizendo que este "compreende a posição" de Moscovo, nomeadamente, em relação à NATO ser, segundo o que defendem, uma das causas da guerra na Ucrânia.
"Ele é o primeiro e, até agora, na minha opinião, o único líder ocidental que disse publicamente e em voz alta que uma das causas profundas da situação ucraniana foi a linha imprudente da administração anterior para atrair a Ucrânia para a NATO", afirmou Lavrov, citado pela Reuters.
"Nunca nenhum líder ocidental tinha dito isto, mas ele disse-o várias vezes. Isto já é um sinal de que ele compreende a nossa posição", reforçou.
Recorde-se que tudo começou na segunda-feira quando os chefes da diplomacia russa e norte-americana, Serguei Lavrov e Marco Rubio, anunciaram uma reunião para estreitar laços ente as duas nações e também para, colocando Kyiv na conversa, falarem sobre a paz na Ucrânia - sem representantes do país.
Zelenksy não gostou e disse desde início que não iria aceitar uma solução que tivesse sido 'cozinhada' sem a presença da Ucrânia.
Já ontem, o líder ucraniano cancelou a viagem que tinha marcada até Riade para esta quarta-feira, sendo que hoje recebe no país que preside um enviado norte-americano, Keith Kellogg.
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