Na sinagoga de Faranj, o rabino sírio-americano Yusuf Hamra, de 77 anos, liderou o culto, o primeiro desde que chegou esta semana dos Estados Unidos, onde vivia desde a década de 1990.
"A última vez que visitei e rezei nesta sinagoga foi antes de partir para a América", contou Hamra.
"Depois de chegar a Damasco há dois dias, vim rezar pela primeira vez... depois de 34 anos", acrescentou, em declarações à agência France-Presse (AFP) no bairro judeu da cidade velha.
Hamra garantiu ter sido o último rabino a abandonar a Síria, um dos milhares de membros da comunidade judaica que emigraram na década de 1990.
A comunidade judaica secular da Síria conseguiu praticar a sua religião sob o governo do presidente Hafez al-Assad, mas este impediu-os de abandonar o país até 1992.
Depois dessa data, o número caiu de cerca de 5.000 pessoas na altura para apenas sete idosos a viver em Damasco hoje.
Após a queda do regime de Bashar al-Assad, em dezembro passado, por uma aliança rebelde islamita, Yusuf Hamra realçou que aproveitou a oportunidade para regressar com o seu filho.
Todos os locais de culto judaicos na Síria fecharam quando a guerra civil eclodiu em 2011, frisou o rabino.
Uma sinagoga histórica no bairro de Jobar, que antigamente atraía peregrinos judeus de todo o mundo, foi saqueada e ficou gravemente danificada durante o conflito. O bairro inteiro ficou devastado.
A família Assad apresentou-se como protetora das minorias numa Síria multiétnica e multiconfessional.
As novas autoridades islamitas da Síria têm tentado, repetidamente, tranquilizar as minorias sobre a sua proteção, prometendo envolver todos os sírios na reconstrução do país.
No final da oração, o líder comunitário, Bakhour Chamntoub, expressou a sua alegria por ver o rabino Hamra regressar à sinagoga.
"Preciso de judeus comigo no bairro", apontou falando sobre o bairro judeu onde vive.
"Durante quase 40 anos, não rezei com outras pessoas. A sensação é indescritível", concluiu.
Mais de um milhão de pessoas, incluindo 800.000 deslocados, regressaram a casa na Síria desde a queda de Bashar al-Assad, em 08 de dezembro, anunciou na terça-feira a ONU.
O chefe do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, frisou também que os primeiros esforços para ajudar a Síria a recuperar "têm de ser mais corajosos e mais rápidos".
Caso contrário, "as pessoas voltarão a partir: é agora urgente!", justificou, citado pela agência francesa AFP.
Uma coligação rebelde liderada pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomou o poder em Damasco após o derrube de Assad, um aliado da Rússia e do Irão.
Em 13 de fevereiro, cerca de 20 países árabes e ocidentais comprometeram-se em Paris a ajudar a reconstruir a Síria e a proteger a frágil transição face aos desafios de segurança e à interferência estrangeira.
O país foi devastado por uma guerra de 14 anos que causou a morte de mais de 500.000 pessoas e deixou mais de 10 milhões de refugiados e deslocados sírios.
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