Demitem-se 21 funcionários tecnológicos federais para não ajudar Musk

Vinte e um funcionários públicos federais norte-americanos pediram hoje demissão do Departamento de Eficiência Governamental do multimilionário Elon Musk, conselheiro do Presidente, Donald Trump, afirmando recusar-se a usar os seus conhecimentos técnicos para "desmantelar serviços públicos essenciais".

Notícia

© Getty Images

Lusa
25/02/2025 18:30 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

EUA

"Jurámos servir o povo norte-americano e defender o nosso juramento à Constituição em todos os Governos presidenciais", escreveram os 21 funcionários numa carta de demissão conjunta, cuja cópia é citada pela agência de notícias norte-americana, The Associated Press (AP).

 

"No entanto, tornou-se claro que já não podemos honrar esses compromissos", acrescentaram.

Os funcionários também alertaram para que muitos dos recrutados por Musk para ajudá-lo a reduzir o tamanho do Governo federal sob a administração de Trump são ideólogos políticos que não têm as competências ou a experiência necessárias para a tarefa que os espera.

A demissão em massa de engenheiros, cientistas de dados e gestores de produtos é um revés temporário para Musk e para a purga tecnológica do Presidente republicano da força de trabalho federal e surge no contexto de uma enxurrada de ações judiciais que têm tentado travar, suspender ou abrandar os seus esforços para despedir ou coagir milhares de funcionários públicos a abandonarem os seus empregos.

Os funcionários que se demitiram trabalhavam para o que era conhecido como Serviço Digital dos Estados Unidos, um gabinete criado durante o Governo do Presidente Barack Obama (2009-2017), após o fracasso da colocação em funcionamento do Healthcare.gov, o portal da Internet que milhões de cidadãos norte-americanos utilizam para se inscreverem em planos de seguro de saúde, nos termos da lei aprovada pelo democrata.

Todos tinham anteriormente ocupado cargos de topo em empresas tecnológicas como a Google e a Amazon e escreveram na sua carta de demissão que entraram para o Governo devido a um sentimento de dever de serviço público.

A atribuição por Trump de poderes a Elon Musk veio alterar essa situação: no dia seguinte à tomada de posse de Trump, escreveram os funcionários, foram chamados para uma série de entrevistas que prenunciavam o trabalho secreto e perturbador do Departamento de Eficiência Governamental de Musk (DOGE, na sigla em inglês).

De acordo com os funcionários, pessoas com crachás de visitantes da Casa Branca, algumas das quais não quiseram identificar-se, interrogaram os funcionários apartidários sobre as suas qualificações e orientação política. Alguns fizeram afirmações que indicavam que tinham um conhecimento técnico limitado. Muitos eram jovens e pareciam guiados pela ideologia e pela admiração por Musk - e não por melhorar a tecnologia governamental.

"Vários desses entrevistadores recusaram-se a identificar-se, fizeram perguntas sobre lealdade política, tentaram colocar colegas uns contra os outros e demonstraram capacidade técnica limitada", escreveram os funcionários na sua carta, sublinhando que tal "processo criou riscos de segurança significativos".

No início deste mês, cerca de 40 funcionários do gabinete foram despedidos. Os despedimentos foram um golpe devastador para a capacidade do Governo dos Estados Unidos de administrar e salvaguardar a sua própria pegada tecnológica, escreveram.

"Estes funcionários públicos altamente qualificados estavam a trabalhar para modernizar a Segurança Social, os serviços de apoio aos veteranos, a declaração de impostos, os cuidados de saúde, a assistência em caso de catástrofe, a ajuda aos estudantes e outros serviços essenciais", sublinha-se na carta de demissão conjunta.

"O seu afastamento põe em perigo milhões de norte-americanos que todos os dias confiam e dependem destes serviços. A perda súbita dos seus conhecimentos tecnológicos torna os sistemas essenciais e os dados dos norte-americanos menos seguros", sustentaram os funcionários federais demissionários.

Os que ficaram, cerca de 65 funcionários, foram integrados no esforço de redução de efetivos do DOGE. E cerca de um terço deles demitiu-se hoje em massa.

"Não utilizaremos as nossas competências como informáticos para comprometer os principais sistemas governamentais, pôr em risco os dados sensíveis dos norte-americanos ou desmantelar serviços públicos essenciais", escreveram.

"Não vamos empregar os nossos conhecimentos para levar a cabo ou legitimar as ações do DOGE", reiteraram.

O esforço de corte que Musk está a protagonizar diverge do que foi inicialmente delineado por Trump durante a campanha presidencial de 2024. O DOGE, um piscar de olho ao meme de criptomoeda favorito de Musk, foi inicialmente apresentado como uma comissão de excelência que existiria fora do Governo.

Contudo, após a eleição, Musk deu a entender que havia mais por vir, escrevendo na sua rede social, X (antigo Twitter): "Ameaça à democracia? Não, ameaça à BUROCRACIA!!!". Desde então, tem-se empenhado de forma agressiva nesse papel.

Na semana passada, subiu ao palco da Conferência de Ação Política dos Conservadores, nos arredores de Washington, onde se vangloriou das suas proezas e ergueu acima da cabeça uma serra elétrica de fabrico chinês, que lhe foi oferecida pelo Presidente argentino, Javier Milei.

"Esta é a motosserra da burocracia", gritou Musk no palco.

Ainda assim, Musk tentou manter os talentos técnicos, com a maior parte dos despedimentos no gabinete do Serviço Digital a incidir em pessoas com funções como 'designers', gestores de produto, recursos humanos e pessoal da contratação, de acordo com entrevistas a atuais e antigos funcionários.

Das 40 pessoas despedidas no início deste mês, apenas um era engenheiro - um funcionário politicamente ativo de forma assumida chamado Jonathan Kamens, que disse numa entrevista à AP que acredita ter sido despedido por ter apoiado publicamente a então vice-presidente, a democrata Kamala Harris, como candidata presidencial, no seu blogue pessoal e por ter criticado Musk em conversas com colegas.

"Creio que Elon Musk não está a fazer nada de bom. E creio que quaisquer dados a que ele tenha acesso serão usados para fins inadequados e prejudiciais aos norte-americanos", disse Kamens.

Os veteranos do Serviço Digital dos EUA, que pediram o anonimato por receio de represálias, recordaram ter experimentado um tipo de choque semelhante em relação à forma como Musk e a sua equipa estão a descobrir como os processos governamentais funcionam.

Com o tempo, muitos deles formaram uma opinião sobre a razão pela qual determinadas coisas no Governo têm de ser tratadas com mais cuidado do que no setor privado.

Leia Também: Ações da Tesla perdem mais de 7% após queda das vendas na Europa

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas