"Chegámos à conclusão de que não há apoio inter-regional suficiente para o Projeto de Declaração Final transmitido a 27 de fevereiro de 2025, pelo que se deduz que as partes não têm a vontade necessária para realizar a conferência, e esta não se realizará", indicou a missão suíça na ONU num comunicado.
A Suíça tinha convidado para a conferência todos os 196 Estados signatários da Quarta Convenção de Genebra, depois de ter organizado outras sobre a mesma temática em 1999, 2001 e 2014.
Em setembro de 2024, a Assembleia-Geral da ONU encarregou a Suíça de acolher a conferência, num contexto de ataques generalizados à população civil da Faixa de Gaza, onde 15 meses de ofensiva israelita fizeram mais de 48.400 mortos e cerca de dois milhões de deslocados, destruindo dois terços das infraestruturas daquele território palestiniano.
Meios de comunicação social árabes próximos da causa palestiniana afirmaram hoje que os anfitriões suíços, patrocinadores da conferência, foram criticados por a terem "politizado", ao repartirem as responsabilidades entre palestinianos e israelitas, e que a Autoridade Palestiniana já tinha indicado que não iria participar.
Entidades árabes convidadas para a conferência, como a Organização de Cooperação Islâmica, terão expresso discordância com o Projeto de Declaração Final, por este dar prioridade à libertação dos reféns israelitas em Gaza em detrimento da libertação dos palestinianos mantidos por Israel nas suas prisões.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 37 dos quais entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra fez, até 19 de janeiro -- data da entrada em vigor de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza -, pelo menos 48.208 mortos (cerca de 2% da população), entre os quais quase 18.000 crianças, e quase 111.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Ao longo de mais de um ano de guerra, cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
A ONU declarou o sobrepovoado e pobre enclave palestiniano mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
No final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio na Faixa de Gaza e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Um acordo de cessar-fogo, negociado com a mediação do Qatar, do Egito e dos Estados Unidos e cuja primeira fase entrou em vigor a 19 de janeiro, terminou à meia-noite de 28 de fevereiro sem acordo sobre a sua continuação.
Nessa primeira fase, que durou 42 dias, foram libertados 33 reféns israelitas (oito dos quais mortos) em troca de 1.800 prisioneiros palestinianos.
Fontes oficiosas estimam que 59 reféns continuam em cativeiro na Faixa de Gaza, 35 dos quais Israel suspeita que estejam mortos.
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