Foram chamados a prestar declarações a ex-conselheira (equivalente a ministra num governo nacional) responsável pela proteção civil, Salomé Pradas, e o seu adjunto, Emilio Argüeso.
A juíza excluiu, para já, chamar o presidente do governo regional da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, que tem sido o principal alvo de críticas por parte da oposição e em sucessivas manifestações de protestam pela gestão das cheias de 29 de outubro.
Por causa do cargo que ocupa, só o Tribunal Superior de Justiça da Comunidade Valenciana poderia chamar e ouvir Carlos Mazón, mas a juíza que tutela a instrução do processo poderia encaminhar um parecer ou pedido nesse sentido à instância superior, o que descartou fazer para já.
A juíza justificou que Salomé Pradas, que Mazón substituiu no governo regional poucas semanas após as inundações, era a "máxima autoridade" para adotar medidas de proteção da população e que o alerta enviado pela proteção civil às 20h11 "foi tardio e errado".
A magistrada considerou ainda que a convocatória do Centro de Coordenação de Emergências às 17h00 "foi feita com grande demora" e que a tomada de decisões por parte do governo regional com vista a alertar a população para o temporal foi feita "com atraso ainda maior".
Para a magistrada, o problema no dia das cheias não foi a "falta de informação", mas a informação disponível ter sido "ignorada" ou "as decisões relevantes não terem sido tomadas por quem tinha poder de decisão".
Num comunicado, Salomé Pradas afirmou que colaborará com a justiça para que se conheça "toda a verdade" e garantiu que assumiu as suas funções institucionais "desde o primeiro até ao último minuto".
Este processo investiga possíveis responsabilidades na gestão do temporal e das inundações que atingiram o leste e o sul de Espanha em 29 de outubro e em que morreram pelo menos 232 pessoas, 224 das quais na Comunidade Valenciana. Três pessoas permanecem desaparecidas em Valência.
A maioria das vítimas em Valência morreu antes de ser enviado o alerta da proteção civil para os telemóveis da população, segundo o primeiro relatório da investigação judicial, conhecido em 26 de fevereiro.
O relatório da juíza que tutela a instrução deste caso inclui centenas de testemunhos de familiares e conhecidos de pessoas que morreram em caves e pisos térreos, dentro de elevadores ou quando tentavam salvar carros estacionados dentro de parques e garagens.
Segundo os relatos, a maioria das vítimas desapareceu entre as 19h00 e 20h00 horas locais de 29 de outubro, em garagens e pisos inundados.
Os testemunhos recolhidos pela investigação dão conta de que em diversas localidades as águas começaram a invadir ruas e a entrar em casas e garagens por volta das 18h30, que às 19h00 havia carros já a serem arrastados pelas enxurradas e que ruas e bairros ficaram sem eletricidade ainda antes das 19h30.
Com base em 60 testemunhos de familiares de vítimas, a juíza concluiu já nesse primeiro relatório que "a ausência flagrante de avisos à população" pode ter causado um "número avassalador de mortos".
O alerta da proteção civil foi enviado às 20h11, horas depois de, ao início da manhã do mesmo dia, ter sido emitido um aviso vermelho (o mais grave) pelos serviços de meteorologia espanhóis.
A demora no envio do alerta da proteção civil (responsabilidade do Governo regional da Comunidade Valenciana) é das maiores críticas que são feitas desde 29 de outubro às autoridades.
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