Num sentido ou no outro, a decisão vai mudar o futuro do país, até porque a extrema-direita -- à qual Georgescu pertence -- considera que a anulação das eleições de novembro e exclusão deste candidato constituiu um golpe de Estado e ameaça avançar com "uma revolução".
A situação colocou este país do sudeste europeu -- o sétimo membro mais populoso da União Europeia (UE) -- debaixo dos holofotes não só por ser inédita, mas por poder abrir um precedente sério.
Realizada em novembro do ano passado, a primeira volta das presidenciais foi conquistada por um, até aí, obscuro candidato: Calin Georgescu, um ultranacionalista de 62 anos que já foi representante da Roménia no comité nacional do Programa das Nações Unidas para o Ambiente e hoje clama que a Ucrânia é um "Estado inventado" e responde na Justiça por financiamento ilegal de campanhas e propaganda fascista.
Antes da eleição de 24 de novembro, Georgescu constava, nas sondagens, como um candidato que teria um máximo de 6% dos votos e declarou gastos zero na campanha, mas acabaria por vencer com 23%.
Rapidamente surgiram alegações de violações eleitorais e interferência russa, que Moscovo rejeita, e a Comissão Eleitoral romena anulou as eleições, a dois dias da segunda volta, e remarcou outra votação para maio, mas impedindo Georgescu de se apresentar de novo como candidato.
Georgescu apresentou um recurso ao Tribunal Constitucional da Roménia cuja decisão começa hoje a ser debatida, tendo de ser finalizada até quarta-feira.
Para a Comissão Eleitoral, seria "inaceitável que o processo eleitoral reiniciado considerasse o mesmo indivíduo como elegível para a presidência".
As alegações de que a Rússia interferiu nas eleições para dar a vitória a Georgescu são contestadas pela extrema-direita, com o líder da Aliança para a Unidade dos Romenos, George Simion, a classificar a decisão como "um golpe de Estado" e a afirmar que a Comissão Eleitoral "não tem o direito de rejeitar um candidato quando todos os requisitos relativos a documentos, assinaturas e formulários foram cumpridos".
"Não temos grandes esperanças" de que a decisão penda a favor de Georgescu, admitiu Simion na segunda-feira, sublinhando, ainda assim, que a extrema-direita vai defendê-lo como candidato "até ao fim".
Por seu lado, Georgescu disse que considera ter sido alvo de "um golpe direto no coração da democracia mundial" e que considera que "a Europa é agora uma ditadura" e "a Roménia está sob [um regime de] tirania".
Centenas de apoiantes reuniram-se na noite de domingo em Bucareste para expressar a sua indignição pela proibição de Georgescu se candidatar novamente, com muitos a agitar bandeiras romenas e a gritar: "Ladrões!" e "O último recurso é outra revolução!".
Alguns manifestantes atiraram pedras da calçada contra dezenas de polícias de choque, viraram um veículo e atearam fogos a arbustos.
No mês passado, os procuradores iniciaram uma investigação criminal contra Georgescu, acusando-o de "incitamento a ações contra a ordem constitucional", apoio a grupos fascistas e falsas declarações de financiamento de campanhas eleitorais e divulgação de ativos.
A primeira volta da repetição das eleições presidenciais está marcada para 04 de maio. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, será realizada uma segunda volta a 18 de maio.
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